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domingo, 17 de junho de 2012

Panamá, enfim

Oi pessoal, depois de um longo silêncio, estou de volta. Queria, antes de mais nada, agradecer J por atualizar vocês durante minha ausência.

Sinto que essa minha primeira travessia vai ser assunto de vários outros posts, pois é um tema de grandes dimensões e significado, por isso vou ser meio superficial agora e falar rapidamente do que aconteceu e para poder retomar os post aqui no site.

A travessia foi longa em vários sentidos. Foi no plano pessoal um passo enorme, a saída do mundo do sonho para o de realização. Dei o passo mais difícil, partir. Então, de agora em diante, o que vier é lucro. E por falar nisso, em termos de distância percorrida essa perna também foi considerável, 1620 milhas náuticas. Isso são 3000 km... ou seja, ida e volta de Salvador a Brasília e ainda sobra um crédito do meu lado. Relativizando para o mundo naútico, isso dá 5 vezes o trajeto da Refeno, a mais famosa regata oceânica do Brasil. Vocês podem ver o percurso da viagem nesse link. O tempo, duas semanas exatas, não é uma travessia muito longa, mas com certeza é muito mais do que um passeio de fim de semana ou uma regata 24 horas no Paranoá (não quero desmerecer as regatas no Lago Paranoá, que eu adoro, mas só quero colocar as coisas em perspectiva).

Descobri muita coisa sobre o barco e sobre mim mesmo nesse período de convivência intensiva. Aos poucos vou falar sobre eles pois é um assunto que merece muita reflexão. O que posso destacar de cara é que me incomodou muito um incidente logo no meu primeiro dia de travessia, a quebra do suporte do leme de vento. O plano era que o leme de vento tocasse o barco por todo o percurso e o piloto automático tocasse o barco nas manobras de troca de vela e durante o tempo com o motor. No final das contas o piloto automático tocou o barco praticamente o tempo todo. Mas isso teve um custo, ruídos e cobrança do sistema. Descobri problemas na instalação e isso me rendeu muitas horas de preocupação se a máquina iria aguentar até o fim da viagem ou não. Ou seja, a tranquilidade foi prejudicada pela ausência de um plano B e pelo fato de ter percebido que a instalação do piloto automático não estava satisfatória.

Por falar em satisfação, um ponto que me incomodou muito foi o excesso de umidade a bordo. Não só a água que eu trazia para dentro nas minhas roupas, mas também a água que entrava pelas gaiutas, vigias, respiradores do barco e no compartimento do motor. Isso não só fazia a vida desconfortável fisicamente por causa da umidade mas também afeta a moral porque você não tem um canto seco para descansar. Isso foi causado por uma série de fatores: o barco ser baixo, que permite que as ondas o atinjam com grande frequência e o fato de alguns trechos que eu peguei terem tempestade ou simplesmente grandes ondas que lavavam o convés todo o tempo.

De resto, fora os problemas, a vida a bordo correu normal. A noite eu acordava a cada 20 - 30 minutos para ver se tudo estava bem, sem navios no horizonte e se o barco estava na rota e voltava a dormir. Para isso eu usei um cronometro e que eu programava quanto tempo de soneca eu teria. Comia umas tres refeições por dia, comida normal, caseira, exceto quando o bicho estava pegando e eu pegava  um prato de comida congelada e colocava no microondas. Ou então, se a coisa estava muito ruim, eram frutas secas e barras de cereal. Eu tinha ainda umas comidas de emergência em que bastava colocar água fervendo e esperar ela hidratar, mas não cheguei a lançar mão desse recurso. Salada e bananas acabaram logo,mas eu tive laranjas para todos os dias da viagem.

Sobre higiene pessoal, que é uma coisa que sempre deixa as pessoas curiosas, eu usei sempre o sanitário do barco. Tem muito caso de velejador que cai da borda do barco fazendo necessidades. Tomava um banho por dia, de água salgada usando detergente de lavar prato que faz espuma com esse tipo de água (nem tente com o sabonete e o shampoo tradicional porque não vai dar certo). Eu ainda tinha uns sabonetes líquidos especiais, caros, caso eu tivesse alergia ao detergente. No final do banho eu usava um pouco de água doce para tirar a água salgada. O mesmo processo com a louça: lavada com água salgada, enxaguada com água do mar e no final regada com água doce para tirar o sal.

Água doce, ou a falta dela, eventualmente poderia se tornar um problema a bordo. Como o barco tem um tanquezinho central rígido e dois tanques infláveis, eu enchi tudo e reservei o tanque menor para quando terminasse o tanque grande. Para minha surpresa, não tinha quase água dentro do tanque menor. Sorte que o tanque grande só terminou no antepenúltimo dia da viagem. O problema desses tanques infláveis é que de vez em quando eles ficam cheio de ar e a água não consegue entrar nele. Olhando de fora eles parecem estar cheios, mas na verdade estão repletos de vento... Mais uma lição, importante para as grandes travessias.

Além da água nos tanques eu tinha 14 galões extras do lado de fora (e mais 30 galões de diesel também). Todo esse peso contribui para que o anjin ficasse pesado e andasse pouco. Para complicar mais, todo o peso está concentrado á ré, o que fazia a popa do barco afundar e frear o barco toda vez que ele começava a deslanchar. Isso é algo que terei que analisar como contornar.

Agora vou analisar como posso dar uma relaxada aqui para começar forte essa semana de reparos, preparação e organização do resto da viagem. Vou colocar também mais fotos e vídeos, em doses homeopáticas para manter a atenção de vocês.

3 comentários:

  1. Que alegria imensa!! Nada de lovebugs este ano. Boa sorte e seus relatos são ótmos. abraços

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  2. Sensacional, meu caro, Parabéns mais uma vez por esse enorme e difícil passo... e gratificante! 5 vezes a REFENO... uau! O relato está saboroso e estou ansioso pelos próximos, com os detalhes e reflexões, assim como um livro bom que a gente nao quer parar de ler.
    Esse lance do Aleixo... e do ar nos tanques flexíveis... que surpresa! o tanto que apertamos aqueles fixadores na popa! O que dá pra fazer mais? Sobre os tanques, será que colocar um respiradores na mangueira logo acima da conexão com os tanques resolve? ou, encher muito devagar os tanques da proxima vez, pra deixar o ar sair pela tubulação?
    Curisidade: por um acaso vc passou pelo triangulo das bermudas?
    Abs

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  3. Gracias, Fosgate.

    Galvânico, mais reflexões seguirão. Sobre o Aleixo você já está a par. Estou pensando em umas soluções para os tanques. O Greg lá em Cocoa que me apertou para isso. Acontece no tri dele também. Ele disse que a solução é ter paciência e encher devagar para o ar poder sair. Sobre o triângulo terei que olhar, mas eu acho que é mais para nordeste do que eu estava.

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