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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Percalços

Meus pés andam bem sujos... tento esfregar mas a sujeira não saí... estou me sentindo meio Lady MacBeth que sofria com as mão sujas de sangue por mais que ela as lavasse. O fato de estar andando de sandália para cima e para baixo lá fora de descalço no barco em um ambinte poeirento desde que cheguei não está ajudando. Também acho que eles estão queimados de sol (apesar de eu passar protetor na parte de cima do pé). Meus pés de menino amarelo de apartamento também estão com bolhas e calos, pois de vez em quando eu uso minha sadália de pneu de caminhão comprada na feira de São Joaquim. A sandália em sim não é dura, mas aquele negócio que fica entre o dedão e o dedo do lado é, literalmente, dureza. E ela deixa marcas pretas no pé.

Comentei  com alguns que no sábado eu calcei um sapato pela primeira vez... no domingo a minha pseudo-havaiana da Fundação Athos Bulcão pediu arrego (ou protestou, com ciúmes de eu ter calçado um sapato). Pelo visto meu pé vai ficar ainda mais sujo.

Deixando pés de lado, J me perguntou outro dia por que eu não escrevo mais sobre outras coisas, sobre meus sentimentos e o que estou pensando, pois o blog parece um relatório de obra. A Nath perguntou uma coisa parecida. Tenho que ser sincero, do jeito que estão as coisas, não dá para ficar elocubrando muito. Falar da reforma é mecânico e fácil e colocam quem lê inteirado de parte do que acontece por aqui. Bem que eu gostaria escrever outra coisa, mas volta e meia começo a pensar no que eu tenho que fazer no barco. Reformar barco é 50% preocupação, 40% transpiração, 9% inspiração (como resolver as coisas) e 1% de tranquilidade, que é quando tudo fica pronto (e funciona). Em via de regra, quando vc chega nesse 1% final, alguma coisa que você consertou no início dá problema e o ciclo recomeça.

Também falei para a Nath que as dificuldades "vendem" mais. Se eu falasse que estou aqui na Flórida com os pés para cima olhando o por do sol lilás, vendo eventais golfinhos, peixes-boi e peixes-bezerro no porto aqui na frente, vocês iam pensar que estou de férias e não iam acompanhar nada ;). Isso de fato acontece, mas não é o tempo todo.

De toda forma, já estou matutando um futuro post cobrindo esses pontos mais intimistas e menos operacionais.

O finde foi de muito trabalho. O cara que está consertando o fundo do barco me emprestou um compressor. Usei uma lixadeira penumática para tirar o resto das cracas e remover vestígios nos pontos onde a fibra de vidro está aparecendo (pontos que perderam a tinta). Nesses pontos vou aplicar um primer (uma base seladora) para proteger a fibra e depois pintar com tinta venenosa. É parecido com obturar um dente. Para falar a verdade, o cheiro de algumas cracas queimando é parecido, o que me dava um deja-vu de consultório de dentista, fora o barulho da broca pneumática.

Esses pontos já estão lixados, permitindo expor a fibra (tecido quadriculado)


Parece simples mas tem alguns problemas: se eu lixo demais, a estrutura fica debilitada naquele ponto e tem que ser aplicada nova camada de fibra. Outro problema: lixar fibra produz uma série de pequenas particulas que coçam bastante, por isso tive que calçar o tênis, vestir um avental, colocar luvas e uma camisa na cabeça (além de vedar as pontas do macacão com fita crepe). E eu falei que a poeira da tinta venenosa não faz bem? Por isso usei uma máscara que retém particulados (mas não o cheiro de fibra e craca queimada).



A ideia é evitar que a pele fique exposta... por isso improvisei um capuz.

E eu lembro do povo no Brasil, lixando barcos na mão grande, literalmente de peito (e pulmão) aberto. Como sou amador, o pessoal do estaleiro fechou o olho, mas quando o estaleiro lixa barcos aqui, eles usam um aspirador acoplado a lixadeira para capturar os resíduos que depois vão para um aterro. A agua que é usada para lavar o fundo dos barcos também é filtrada e reutilizada. Bom ver isso. Mas todo mundo fala que até pouco tempo, tudo ia direto para o mar.
Essa é a lixadeira orbital, que usei para trabalhos mais leves. Veja a fita crepe para lacrar os pulsos.
Felizmente essa poeira é só tinta, sem a fibra. De tanto trabalhar no sol, meu relógio tb está pedindo arrego.

No domingo teve mais lixação. Depois lavei o barco para tirar toda a poeira.

Um pequeno progresso foi conseguir tirar o nó da bolina... custou mais alguns (vários) minutos de trabalho (e muitas ferramentas apropriadas - valeu pela dica, Edu) mas o nó foi embora. O problema é que a bolina ainda não desceu.. vou ter que investigar o que está acontecendo.

Nó teimoso (e isso foi depois de 90 minutos de briga na semana passada)

Jeitinho, ferramentas e agua para molhar o nó que está aí há anos

Nessa hora percebi que ia conseguir



Trabalhava depois das 15:00 da tarde, quando o sol ficava mais fraco para eu vestir minha "roupa de fantasma" e ia até escurecer, perto das 20:00.

Voltei a trabalhar no meu cronograma da reforma. Tenho que fazer encomendas para já ter tudo em mãos quando chegar a hora da instalação (que espero que seja logo). O problema agora é combinar isso com os prestadores de serviço.

A internet daqui funciona melhor de dia, mas a noite, quando posso falar com as pessoas, geralmente a conexão é lenta ou ininterrupta. Terei que colocar isso também no meu programa de atividades. É muito frustrante encontrar alguém no Skype, começar uma conversa e a ligação cair depois de poucos segundos.. :(

Nos últimos dias choveu à noite, rapidamente, todos os dias. Percebi que isso aumenta a saudade. Tenho boas lembranças de escutar a chuva caindo abraçado com alguém...

Hora de voltar ao trabalho! Por hoje, chega.

sábado, 28 de maio de 2011

coisas acontecem

Uma das piores coisas para a moral de quem toca uma reforma são os retrabalhos. Significa que tempo e recursos foram gastos mais de uma vez. Isso aconteceu com parte do trabalho do fundo do barco. Tive que contratar um outro cara para terminar o serviço porque o primeiro ficou bom e a pessoa que fez queria mais dinheiro para consertar o serviço. Pelo menos fiquei feliz em saber que o segundo cara é melhor e cobra mais barato que o primeiro. Mas de qualquer forma, é tempo perdido.

Começaram a, enfim, chegar coisas para o aparelhamento do barco. Parte dos pedidos da West Marine chegou e os pedidos da Defender chegaram na sexta. Quase todas as partes para o motor chegaram na quinta. Ficou faltando só as chaves do motor.

Continuo na pesquisa sobre onde registrar o barco. Parece que vai ser Belize ou Dominica. Estou mais tentando em escolher o primeiro por causa da maior rede de atendimento para registro.

Na quinta feira fiz o depósito para a confecção das velas e encomendei o motor da geladeira.

Na sexta dei uma lavada no mastro do barco. Ele ficou com uma aparência melhor, mas ainda tem pontos que merecem atenção, nos quais os estais ficaram tocando o mastro e arrancou a pintura. Vou conversar com o pintor se um serviço "pontual" pode ser feito. Mas talvez eu pinte logo o mastro para não ter que passar por isso depois, especialmente quando todos os eletrônicos estiverem instalados.

Na sexta o cara da metalurgica apareceu aqui para fazer umas medidas da placa que suportará o jibe. Disse que entregava no sábado, falei para ele não enrolar e entregar na terça, depois do feriado. Para compensar, o outro capoteiro não apareceu de novo para fazer o orçamento.

Pois é, segunda feira é feriado aqui nos EUA. Memorial Day, o dia em que o país homenageia aqueles militares que pereceram em conflitos. Muita gente para homenagear nesse país que volta e meia se envolve em algum conflito. Mas não vou entrar na discussão de como as forças armadas e guerras puxam o PIB do país.

Eu gosto muito de feriados, mas na situação atual eu não aprecio esses dias nem os fins de semana. Esses são dias em que ninguém trabalha e nada é feito no barco (a não ser meu trabalho de lixar, lavar, consertar ou pesquisar algo). Para complicar mais, a previsão do feriado é de chuva, justamente na época em que eu preciso começar a tirar as escotilhas para trocar os acrílicos.

Agora, mais do que nunca, preciso de foco na reforma. Junho já está quase aí

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Operação "acabou-o-viagra"

Quando trabalhei na Unilever achava muito interessantes os nomes dos projetos. Era algo parecido com as operações da Polícia Federal, só que a PF gosta muito de mitologia e regionalismo, a Unilever era mais com coisas do dia a dia. Com base nisso, resolvi adaptar um comentário Hupseliano para o processo de abaixar o mastro do barco: a operação acabou-o-viagra.

Acho que ainda não comentei isso por aqui mas não tenho conseguido dormir até tarde. Quando dá 07:00 da manhão (ou antes) eu acordo. Ainda insisto na cama, com minha preguiça matinal, mas sono que é bom, nada. Na segunda de manhã estava checando meu e-mail quando o celular tocou... ainda não era nem 07:30. Achei que fosse J, mas era o cara da metalurgica que eu solicitei uns orçamentos. Quando o cara chegou (antes das 08:00) e me passou o orçamento dos tanques achei que ainda estava dormindo: era um pesadelo! Pedi para ele trazer o preço detalhado de cada um... vou ver o que faço. E esse preço era para tanques de aluminio, imagine se for de inox (tem gente que condena tanques de água de aluminio). Estou considerando tanques flexíveis, ou tanques plasticos - se achar uns que caibam no lugar. Não achei ninguém aqui disposto a fazer os tanques de fibra.

Na manhã eu dei continuidade à questão do registro do barco... complicado. Curiosamente, só quem respondeu meus e-mails foram escritórios localizados em Gibraltar e Chipre. Os escritórios da America Central e Caribe não responderam.

O cara da fibra não apareceu de novo...

Como pouca notícia ruim é bobagem, o cara do inversor ligou dizendo que ao substituir a peça com defeito, outra peça queimou. Como Murphy diz, a peça que queimou não era  um fusível baratinho, mas uma placa (ainda bem que não foi a mais cara). De acordo com o técnico a avaria da unidade deve ter sido causada por algum raio que atingiu o barco. Subitamente o conserto ficou 4 vezes mais caro que o orçado e à metade de uma unidade nova. Mas o representante alegou que meu inversor estava quase novo e era uma unidade mais robusta que as atuais, valia a pena consertar. Veremos o que acontece.

Depois eu encomendei na Defender as peças que irão no mastro: suporte de radar, luzes, um afasta-raios, windex, antena de VHF. Fiquei super contente por receber, uma hora depois, um e-mail de confirmação dos pedidos. Mas alegria de pobre dura pouco... quando liguei para perguntar se os produtos seriam enviados naquele dia a mulher do atendimento falou que o sistema gera uma mensagem automática e eu teria que esperar contatarem meu banco.

No final da tarde fui na veleria confirmar a operação no dia seguinte, pagar as horas de trabalho do cara e do assistente e o guincho. Uma das principais razões para baixar o mastro é que eu forçosamente teria que contratar pelo menos mais uma pessoa para me ajudar (alguém para me levatar enquanto eu ficaria pendurado em uma cadeirinha a 17 metros do chão). O cara da vela já tinha me avisado que só vai se o assistente dele for porque ele não confia em outra pessoa içando ele no mastro. Faz sentido. E a US$90 a hora de cada  um achei que valia a pena colocar a "jaqueira" no chão. Gasto inicial maior mas diluo no longo prazo. Facilita a inspeção e instalação das coisas novas, além da limpeza.

No dia seguinte acordei antes das 0700. Coloquei tudo em ordem para o inicio da "operação". Os caras da veleria chegaram as 07:30 e o guincho as 08:00. Detalhe, para contratar o guinho é preciso pagar um mínimo de 3 horas... com o guincho no lugar soltamos os estais e ovens (cabos que sustentam o mastro). O mastro saiu mais fácil do que eu imaginava e depois foi colocado em cima de 5 cavaletes. A retranca também foi para baixo. anjin ficou com uma cara triste sem seu principal meio de propulsão.

A manhã foi toda gasta na inspeção da mastreação. Tudo está muito sujo. O que eu achava que era sujeira é um misto de ferrugem e desgaste dos cabos de aço atritando no mastro de alumínio. Estou pensando em aproveitar e pintar o mastro, já que ele está no chão. Dois estais devem ser trocados. O resto deve se ficar de olho e dar uma verificada a cada 6 meses. A vida útil desses cabos é de 7 - 10 anos, mas no Brasil, por exemplo, a galera demora mais que isso. Aqui as empresas de seguro exigem a mudança periódica.

De tarde fui na veleria. A Bainbridge, uma grande fabricante de tecido para velas, está com promoção no tecido e oferece, de quebra, as escotas (cabos) para as velas no preço. Acho que vale a pena. Então ao invés de bater o martelo, voltamos ao orçamento de novo.

A encomenda da West Marine não chegou... definitivamente as compras não estão dando certo. Aproveitei para falar com outro capoteiro para fazer um orçamento para as coisas do barco e fui acertar o detalhe das trocas dos acrílicos das escotilhas (gaiutas).

As coisas caminham, mas ainda não estão aceleradas.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Finde

Esse fim de semana foi de muito calor.

Trabalhei um bocado no barco no sábado. O cara da geladeira apareceu aqui para dar uma última olhada antes de encomendar o material. Chegando aqui ele ficou com receio da placa não entrar pela tampa da geladeira. Depois eu fiz um modelo com uma folha de papelão e aparentemente cabe. Mas não sei se, quando for a placa de verdade que tem 6 cm de espessura, vai funcionar... o pedaço de papelão é bem mais fino que isso. O técnico ficou de passar na segunda para dar uma olhada.

Maior parte do tempo do sabadão eu passei no calabouço (compartimento do motor). Para ganhar tempo (e reduzir a conta do estaleiro) eu fui removendo tudo que fica no caminho do eixo, para que ele possa ser removido. Mangueiras, escapamento, tubos. Marquei as coisas com fita para saber onde re-encaixar tudo e tirei umas fotos para guiar o processo.  Depois fiquei analisando o emaranhado de tubos e conexões por lá. Tinha muita coisa que dava para fazer de maneira mais simples, pelo menos assim eu imagino. O importante agora é entender como funciona. Uma hora dessas vou fazer um mapa da tubulação e tb do sistema elétrico (mas esse me parece inexpugnável).

Depois foi hora de limpar o resto das cracas do eixo... pelo menos eu sai do calor da cabine de popa e fui para a sombra embaixo do barco. Com um formão eu fui removendo as cracas que tinha sobrevivido ao spray de 4000 psi (a pressão média do pneu de um carro é 30 psi, para vcs compararem). Mas é um trabalho chato... fica voando um monte de casca em cima da gente e uma são bem duras. Meu plano é remover o eixo para que o balanceamento e alinhamento seja verificado. Depois ainda coloquei o hélice novo no eixo para ver o encaixe. Aparentemente está certo, falta uma chave e não vi nenhum pino de segurança qu evite perder o hélice.

O resto da tarde foi frustrante. Mais uma vez fiquei tentando desatar o nó que existe no cabo que segura a bolina... passei mais de uma hora e meia brigando com o nó, usando duas chaves de fenda e um alicate. Só consegui estragar o cabo e ficar sem paciência. Quando me flagrei xingando o cabo, percebi que era hora de parar.

Fui na loja do estaleiro e comprei uma cerveja. Foi a primeira que tomei desde que cheguei aqui. Deitei, fiquei de barriga para cima olhando o céu, sentindo o vento de fim de tarde. Aproveitei para mandar uns SMS para o Brasil.

No finalzinho do dia coloquei WD nas ferragens para facilitar soltar as peças do mastro... terça feira a jaqueira vai ser removida.

No domingo fez calor demais. Aproveitei para ficar no ar condicionado (fraco) fazendo a contabilidade. Gastos mais altos do que o previsto. O lado bom é que ainda não fiz esses gastos, mas estou vendo no horizonte eles se aproximando. Depois tentei ver peças que eu tenho que comprar, mas acabei me dedicando mais a questão do registro do barco. Quanta burocracia, quanta complicação. Onde vou amarrar meu anjin?! Com essa pergunta na cabeça meti a cabeça no travesseiro.

Assim nasce um anjin

Como já dizia Carmem Miranda, tem coisas que ninguém sabe o trabalho que dá. Nomes de barcos podem ser um exemplo. O nome deve ter um significado (a não ser que seja o nome do seu patrocinador), principalmente para o dono. Como não tenho patrocinador não dava para pegar o caminho fácil e foi preciso debruçar longamente na questão. Também não dava para manter o nome atual, apesar de ter gente que acha que dá azar. My Try ficou até hoje só na tentativa e eu quero ir muito além disso.

Tenho que agradecer algumas pessoas por contribuições, mas agradecimentos especiais para J por inúmeras sugestões, propor coisas que eu não tinha pensado ou que nem sabia que existiam. E a lista de sugestões foi grande.

O briefing do nome era relativamete simples. Devia ser fácil de falar, deveria ser um nome que refletisse a leveza e velocidade do barco, bem como sua natureza feminina: uma "mulher de fibra". E era importante que o nome tivesse algum significado, não fosse resultado daqueles programas de computador que dão nomes para carros. Seria desejável, ainda, que tivesse ainda algo a ver com clima.

Com a escolha do nome algumas coisas mudam: dá para dar seguimento no processo de registro do barco, dá para chamá-lo (ou a ela) de alguma coisa ao invés de "barco sem nome", é possível passar para detalhes mais operacionais como layout do nome e gravar coisas para o barco.

Sei que vcs já devem estar correndo o olho para cima e para baixo buscando o nome. Pois bem, ele está lá, a última palavra do título do post. Bem, o nome tem vários significados... um querubin ou um anjo pequeno não foi um dos conceitos, mas pode ser lido assim. O nome derivou da palavra vento em polinésio, e também de vento em indonésio, que tem a grafia acima. Mas o elemento que faz o vínculo comigo, que torna o nome especial para mim, é que esse era o nome que John Blackthorn, personagem principal do livro Xogun, de James Clavell, era chamado pelos japoneses. Essa foi a tradução que o autor usou para a palavra piloto, quem guia um barco.

Na sexta feira acordei pensando na questão do nome. Que precisava dar um fim nessa história de "barco sem nome". Tinha gostado da alternativa escolhida e até tinha falado com minha mãe que pediu para fazerem a numerologia do nome e o resultado foi bom. Assim, quando J enviou mais uma sugestão de nome, comentei que tinha batido o martelo.

Apresento a todos: anjin, meu companheiro(a) nessa aventura.

sábado, 21 de maio de 2011

Xabú...

Tem umas palavras que fazem parte do meu cotidiano, de menino soteropolitano, que quando eu menciono em outros lugares, muita gente não entende. Estou sem o seminal "Dicionário de Bainês" do Nivaldo Lariu comigo por isso não dá para saber se xabú é uma palavra como "armengue"... todo baiano sabe o que significa, mas o resto do mundo geralmente não.

Quentin Tarantino explorou essa questão das pequenas diferenças em Pulp Fiction. E elas são interessantes. Por exemplo, cachorro na Bahia se mede de  uma maneira que não é feita em outros estados (J, essa eu roubei de vc).

Voltando ao negócio do xabú, na Bahia geralmente se usa a expressão "dar xabú" quando algo não funciona. Pois bem, isso aconteceu com as minhas compras nesses ultimos dias.

Decidi comprar um outro enrolador de genoa para o jibe do barco, para facilitar minha vida velejando sozinho - apesar de ser uma vela pequena. O melhor preço encontrado era na Defender (loja favorita do Eduardo)... entretanto, a onipresente (e cara) West Marine tinha uma última unidade em uma filial em San Diego. Pedi informações sobre a peça na terça de tarde. Só na quinta no final do dia me deram a resposta que a peça era uma devolução (xabú 1). Liguei para a Defender para fazer a compra lá e me disseram que era necessário encomendar junto ao fabricante e isso podia demorar (xabú 2). No final das contas acabei encomendando, na sexta, por intermédio do cara que está fazendo as velas, o Morgan (pseudo xabú, pois foi mais caro que as outras opções).

A compra dos eletrônicos também está se arrastando e cheia de contratempos.  Muitas das lojas que vendem  eletrônicos não aceitam cartões emitidos fora dos EUA e pedem, nesse caso, que seja feita uma transferência bancária. Mas depois do sufoco que foi a transferência para o barco, não quero mais enveredar por esse caminho. Estou buscando fornecedores diferentes. A Defender já avisou que a verificação de um cartão de crédito do Brasil pode demorar até 8 dias (xabuzão). Enquanto isso o tempo passa e a temporada de furacões se aproxima, bem como a data para meu rendez-vous.

Passei a manhã da sexta feira pendurado no telefone tentando resolver a compra dos eletrônicos. A mulher da loja chegou a me oferecer 100 dólares de desconto para eu fazer uma transferência. Acho que vou enfrentar o prazo da Defender e torcer que a verificação seja rápida.

No final da tarde de sexta alcancei uma marca importante: icei a vela mestra pela primeira vez. Não deu para içar a vela toda porque havia alguns problemas com as ferragens, mas me senti contente com isso. Mais um passo para o barco na água. A vela é bem pesada. O Morgan gostou do que viu (essa vela veio com o barco), disse que é uma excelente "vela velha nova". Reforçada, feita com material bom mas um corte e ferragens meio antigos. Ele foi embora e eu fiquei sozinho no convés do barco, dobrando a enorme vela enquanto o sol sumia. Poético nada: ficou escuro e eu ainda continuava brigando para dobrar a vela que teimava em escorregar e perder as dobras. Fiquei até com vergonha, foi a vela mais mal dobrada da minha vida...

PS - Se vc quiser saber o que é armengue e como se mede cachorros na Bahia, procure o/a baiano(a) mais perto de você.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

grandes miudezas

O barco é uma coleção de sistemas que cria uma unidade relativamente autosuficiente. Por causa disso tem muita coisa envolvida. Tem dois sistemas de propulsão: vela e motor. Tem a geração e distribuição de energia, tem a parte hidráulica, a construção do barco em si e tem ainda centenas de detalhes de acabamento.

A estratégia que adotei foi tratar de cuidar logo das coisas que vão tomar mais tempo. Por isso fui ver a parte elétrica e velas (isso para não falar da fibra de vidro que foi parcialmente tratada durante minha ausência).

O quesito medição de velas está quase terminado, tratamos agora de definir os materiais, dimensões e equipamentos que serão utilizados na mastreação.

Na terça o mecânico me falou de algumas peças que precisava e passou aqui para pegar dinheiro para comprá-las. O acordo com ele foi que vou pagando pelas peças e pago a mão de obra no final. Ainda assim o cara dá umas furadas. Disse que apareceria na quarta e não veio pq faltou uma peça. Como ele não apareceu, fiz uma viagem de bate e volta até Orlando para levar o inversor para uma revisão.

Conversando com o cara dos inversores ele me contou com o mercado de baterias e carregadores está migrando para as "energias alternativas". Segundo ele, tudo agora de 24 e 36V agora é tratado por canais exclusivos (e muito mais caros, afinal, é verde).  A parte de 12V não é prioridade para os fabricantes, principalmente depois da crise de 2008 que diminui a demanda por utilizações de lazer (que juntamente com ônibus e caminhões são o principal mercado dos 24V).

Achei curioso que lá em Orlando não tem love bugs... imagina vc na fila de um brinquedo em Disney, no sol, e nuvens de inseto pousando em vc... hehehehe.

Por falar em singularidades da Florida, outra coisa que eu fico impressionado é que aqui nesse estado capacete não é obrigatório para quem anda de moto. Além dos riscos óbvios, fico imaginando como deve ser dirigir e ficar, literalmente, com a boca cheia de formiga.

Já que mencionei peças, aqui também tem o lance das peças originais e peças genéricas. Perguntei sobre peças genéricas de primeira e segunda linha e o povo não entendeu o que eu quis dizer. De qq forma, outra coisa que estou percebendo aqui é a cartelização das marcas, principalmente das coisas de barco. Poucos grandes fabricantes vão comprando os menores e formando grandes grupos. O problema é que muitas vezes eles não honram a continuidade das peças dos outros fabricantes.. e para quem tem barco velho isso é complicado.

O meu barco (agora quase com nome) tem um motor Westerbeke... para mim é uma coisa meio Harley Davison. Não tem muita tecnologia, não são exemplos de economia e as peças são caríssimas. Mas os americanos adoram... é a resposta deles para os motores japoneses ou suecos. Infelizmente, a Westerbeke adotou a pessíma política de proibir seus fornecedors de vender peças de reposiçao ao público. Assim, se eu quiser comprar uma parte, mesmo sabendo quem fabrica, não adianta. Tenho que comprar da Westerbeke, a marca vermelha!

Percebi que o cara que construiu o barco foi comprando coisas aos poucos ao longo da vida. Lembram o rádio de 1977 que eu mencionei? Pois bem, descobri que o leme de vento é do final da década de 1970. Olhando o motor achei uma estampa dentro dele marcando 81... imagino que talvez seja o ano 1981. E tudo isso ficou guardado até o barco ser começado em 1997 e "terminado" em 2000.

Além de um conjunto de sistemas, um barco é, sem dúvida, um grande quebra-cabeças.

Abaixo algumas peças do puzzle:

Interior do casco lateral

Entrada casco lateral

Leme de vento Autohelm - circa 1978

Painel Westerbeke (conta-giros com horímetro, pressão do oleo, temperatura d'agua e voltimetro)

Geladeira (caixa térmica)

Banheiro (incompleto)

Cama de proa (lugar onde estou dormindo agora)

Fogão com forno e termômetro

Cabine de popa (observe gerador embaixo da cama de casal)

Inversor peso-pesado

Mini-gerador

Motor Westerbeke

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Que rojão

Segunda foi um dia atípico. Tive uma programação que não envolvia barco. Resolvi assistir, antes das 09:00, o último lançamento do Endeavour (um dos ônibus epaciais junto com o Columbia, Atlantis e o Challenger). Teoricamente esse deveria ser o último lançamento da história, uma vez que a Nasa vai passar a utilizar foguetes não tripulados, mas houve tanta repercussão que liberaram orçamento para mais uma viagem dos Space Shuttles.

Tenho que confessar que fiquei, no começo, meio desapontado com o lançamento. Eu estava no que é considerado um dos melhores lugares para acompanhar o lançamento de fora do centro espacial. Mas o ônibus espacial parecia um ponto no horizonte.

Várias pessoas esperando, alguns fazendo pic nic, outros de bicicleta, muitas câmeras, filmadoras e expectativas. O meu vizinho de meia idade e pânceps avantajado tinha um radinho na cintura e uma filmadora não mão. Ele tinha sintonizado na torre de comando... e eu ouvi a contagem regressiva, o take off ao vivo, mas não vi nada no horizonte.

Subitamente um clarão muito forte atravessou a baía de Cabo Canaveral... uma luz possante e a nave subia... não tão rápido quanto se imagina, mas isso era por causa da distância... e o radinho falava: e a cada segundo 11000 libras de combustível estão sendo queimadas pelo foguete; agora é o momento de aceleração máxima; desconectarm os foguetes laterais, e por aí vai...

No meio da história toda eu não sabia se filmava ou se assitia... dei uma de Jãnio Quadros e fiquei com um olho no gato e outro no queijo (olhava a máquina e olhava a nave). Infelizmente o ceú estava nublado e o foguete desapareceu... não dava para enxergar nada por causa das nuvens espessas... as pessoas começaram a bater palmas, a se levantar e, lentamente, a sair.

Foi nesse momento que fiquei realizado... o ruído finalmente chegou. Um estrondo alto, grave que dava a noção de que tipo de força estamos falando e que garantia que o que eu via não era um rojão de São João. Para quem é moleque e sonhava em construir foguetes, isso foi um  momento de realização.

Voltei para o barco... de um lado da baía tecnologia sofisticada de foguetes. Do outro, do meu lado, a tecnologia centenária dos barcos a vela. Cada um no seu mundo.

Depois disso tudo foi mais do mesmo: checar preços na internet, falar com o veleiro, visitar um capoteiro (bem, pelo menos é assim que chaman na Bahia quem trabalha com espumas e tecidos), pegar umas encomendas.

O mecânico furou novamente e conversei longamente com o técnico da geladeira para ver como essa novela termina.

A noite envolveu uma teleconferência com J para tratar do layout do barco, especialmente a parte da geladeira. Esse final me deixou feliz: não estou no nível tecnológico dos astronautas do space shuttle, mas estou muito mais bem aparelhado que Colombo ou Cabral!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

os tais dos love bugs

Vcs me ouvem reclamar um bocado de insetos. Nunca me considerei um cara fresco para insetos domésticos - exceto as baratas na casa do Armando Elage, em Goiania, que eram highlanders.

Acontece que a quantidade de bichos voadores aqui na Florida, especialmente nessa epoca do ano, é impressionante. De dia eu convo com os love bugs. E a noite enfrento a fauna hematófaga: muriçocas, pernilongos, maruins, carapanãs, etc. Por causa disso, nesse fim de semana me vi forçado a comprar um ar condicionado. Melhorou, mas não resolveu. Como o barco nõa é hermeticamente fechado, e eu tenho uma extensão entrando pela "janela" do barco, os danados conesguem entrar.

De vez em quando eu tenho que pegar o aspirador de pó para recolher os bichos mortos. Eles não vivem muito e deixam o chão preto, tamanha é a quantidade de insetos.

Pelo que descobri, os lovebugs se alimentam de néctar. Por observação percebi que eles gostam de lugares humidos (ou gelados, ainda não sei bem). Apesar de pararem de voar durante a noite, quando eu desço a escada do barco sempre esmago vários com as mãos e pés.

Pelo que li o maior problema que eles causam são nas estradas: motoristas sem visibilidade por causa da quantidade de insetos e veículos que superaquecem por causa de entupimento dos radiadores. além disso, a matéria do corpo deles danifica a pintura dos veiculos.

Abaixo uns videozinhos que filmei ontem. As pessaos daqui disseram que há tempos não viam uma temporada tão longa (e forte) desses invertebrados. E tem tb umas fotos dos dito-cujos.










domingo, 15 de maio de 2011

Sexta e sábado

Foram dias sem descanso. Na verdade, todo dia aqui é dia de trabalho. Tenho que terminar logo essa etapa porque a temporada de furacão se aproxima.

Na sexta tive que remedir umas coisas e tirar umas fotos da mastreação do barco para definir o que vai ser feito. Estou começando a concluir que abaixar o mastro pode ser uma boa. Vai ser mais uma grana de cara mas vai dar para eu fazer coisas sozinho e economizar no longo prazo. Com o mastro no lugar forçosamente vou ter que contratar alguém para fazer o serviço ou para me ajudar a subir. Com o mastro no chão fica mais fácil instalar as coisas, fazer a inspeção. Devo aproveitar para pinta-lo.

Também entrei em contato com o fabricante do leme de vento Auto-helm. Só consegui achar algumas peças e não sei exatamenteo o que falta além da pá e da conexão com o leme externo.

Os eletricistas vieram na sexta. Também sofreram com o plug na parede que não é compativel com plugs  comuns e com disjuntores desligados. Me fez me sentir melhor. A  boa notícia foi que minha extensão estava funcionando. A parte ruim é que o inversor não deu sinal de vida.

Inversor é um aparelho que trata da energia no barco. No caso da unidade que está instalada, ela recebe a corrente 110 ou 12V, recarrega baterias, conecta com o gerador, manda para o painel e por aí vai. Muito bom na teoria, mas na hora de funcionar nada. A recomendação foi tirar a unidade para avaliação. O eletricista disse que podia fazer isso, mas a US$85/hora eu preferir fazer eu mesmo.

Gastei mais de 3 horas para conseguir fazer o serviço. O acesso era ruim, as chaves que eu tinha eram pequenas e por aí vai. Mas a grande dificuldade foi que a unidade estava colada na parede! Depois de uma hora brigando com ela usando uma chave de boca para fazer alavanca, resolvi improvisar um pé de cabra. Achei uma barra de metal chata, coloquei ela dentro de uma mangueira para não estragar a madeira e fiz força. Nada... o silicone que foi usado era bom e esticava e voltava para o ponto inicial.

Churchill disse que "desperate times call for desperate measures". Já estava cansado e com as mãos doendo. Isso para não falar no calor da cabine de popa (já comentei sobre isso anteriormente). Então coloquei os dois pés na parede, me apoiei na cama e puxei o pé de quase-cabra. O inversor saiu, arrancou um pouco da madeira a parede com ele... quebrou a cordinha que eu tinha colocado para segurá-lo, mas felizmente nada de sério aconteceu. O bicho é muito pesado. Pensei em uns 15 quilos mas deve ter uns 30. Agora vou ter que pagar alguém para me ajudar a carregá-lo até o carro e dirigir até Orlando. Como o eletricista disse que o cara não daria desconto para ele, resolvi fazer isso eu mesmo. Até pq, teria que pagar ao eletricista pare ele vir aqui pegar e despachar o inversor.

Com isso resolvi encerras os trabalhos pesados na sexta. Fui organizar as listas de coisas para comprar e instalar. Estou usando o programa Xmind, seguindo sugestão enviada por J. O programa oferece uma boa visualização, mas ainda tenho que explorar as potencialidades.

Não sei se comentei, mas a internet de grátis daqui é meio vagalume... fica indo e vindo. Não só acaba com a paciência mas torna conversas via internet quase impossíveis. Acho que isso é para me preparar para as travessias.

Recebi um telefonema na manhã do sábado, nada de fornecedores, técnciso, vendedores nem era o corretor. Era só para saber como eu estava. Confesso que isso me deixou muito feliz. Chamadas inesperadas sem noticias ruins são excelentes para a moral.

No sábado fui para o depósito novamente. Passei o dia separando o que serve, do desconhecido e do imprestável. Deduzi que os love bugs dão plantão no fim de semana pois o número deles estava muito maior que durante os dias úteis. Na estrada dava para ver nuvens de insetos.  No depósito consegui organizar as coisas em fios, mangueiras, material de acabamento, material de obra, ferragens, material eletrico e material hidraúlico. O unico problema no meu processo organizacional foi uma tempestade tropical. Molhou um monte de coisa... se o cheiro de mofo já estava ruim, imagine agora.

Na volta parei para comer um sorvete... já estou sem geladeira há quase uma semana. O que me força a ir ao mercado dia sim dia não. De vez em quando compro alguma coisa gelada e consumo logo. No sábado de manhã veio um técnico olhar minha geladeira. Ele disse que acha que tem conserto, mas o fato do sistema ter ficado aberto pode ter comprometido a capacidade de refrigeração. Anotou os números de referencia e me responde depois dizendo se é melhor consertar ou trocar. Ele perguntou se eu preferia uma geladeira ou um freezer. Disse que preferia um freezer. Com um freezer dá para fazer gelo, congelar coisas e manter um isopor. Vivi quase um ano na república, em Brasilia, com uma "arca conservadora". Acho que vai ser um revival.

A noite de sábado foi movimentada... o vento que começou de tarde foi só aumentando. O ar zunia nos estais e balançava o barco. Não tive medo do mastro desabar, mas sim do barco cair do suporte. Levantei umas 3 vezes de noite. Duas para prender/apertar uns cabos que soltaram e outra para mover meu carro de lugar. Estava com medo que o vento jogasse alguma tabua solta no carro por isso estacionei em um lugar mais abrigado e voltei a dormir. Essa noite foi maravilhosa: não teve muriçoca e não fez calor. Mudança bem vinda. :) 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Velas e velhas

Dia 12 foi um dia corrido... minha cabeça estava cheia, coisas de barco e coisas não barco. Volta e meia estava pensando sobre Brasilia. Pensei muito, de gente a velejadas. Lembrei da reforma do Mootley, a beira do lago Paranoá, que demorou 4 vezes o estimado. O objetivo aqui é não cair nessa mesma armadilha. Mas é tanta coisa para fazer que tem horas que me perco. Vou seguir o conselho dado por J e montar listas.

Para minha surpresa o corretor apareceu aqui de manhã cedo. Eu tinha comentado com ele que a reforma do fundo ficou faltando uns pontos. Ele insistiu que só faltavam os pontos onde o barco está apoiado. Mostrei para ele, que teve que aceitar a verdade e falou que na próxima semana vai resolver isso.

Depois fiquei esperando o eletricista aparecer... estava com medo de ligar o barco na tomada e alguma coisa estourar. Cansado de esperar, resolvi tentar ligar e nada aconteceu. Passei horas, então, limpando contatos nas extensões, tentando diferentes adaptadores e nada. Depois eu descobri, por acaso, que a tomada que estava tentando usar estava com o disjuntor desligado. Isso é que dá não ter um multímetro. Fui fazer outra coisa chateado por ter gasto todo esse tempo com as tomadas que não funcionam.

Comecei a montar uma lista inicial. A prioridade são as velas. Não só pq isso é um veleiro mas também porque elas demoram para ficar prontas.

De tarde fui visitar o depósito que estou alugando. Sim, precisei alugar um quartinho para guardar todas as peças extras que vieram com o barco. Lá estão todas as ferragens do barco, peças elétricas e um monte de coisas velhas.

Pelo que fiquei sabendo o cara que construiu o trimarã era um comandante de esquadra da Marinha Americana. O sujeito era bem metódico. Muitas das embalagens das ferragens tinham sacos plásticos com data. Fiquei com pena de ver coisas compradas em 97 e ainda embaladas. O cara morreu de ataque cardíaco na cadeira do dentista antes de terminar a obra. Uma pena.

Já o segundo dono era um engenheiro maluco desorganizado. Guardava tudo sem muita lógica e não acho que ele tinha o conhecimento de naútica do comandante. A paixão do engenheiro eram os sistemas elétricos. Confesso que isso me deixa meio preocupado. O barco tem paineis solares,  alternadores extras, gerador, inversoro, diodos, bloqueadores, filtros... uma babel. Nisso ele avançou, mas na parte de navegação, o barco ficou mais ou menos como o comandante deixou: inacabado.

Mas bem, voltando ao depósito o objetivo era ver o que tinha de ferragem diponível. Tinha um monte de coisa que eu nunca vi e um outro tanto que eu não entendia porque ele comprou tantas iguais. Achei o enrolador de genoa, o motivo da minha ida ao depósito, no canto em que eu tinha guardado há quase um mês. O problema foi que a caixa de papelão desmontou e o conteúdo caiu dentro de outra caixa maior cheia de miudezas. Como não sabia extamente o que estava buscando, a garimpagem demorou bastante. Aproveitei para jogar coisas velhas fora: revistas de propaganda do caribe, um rádio VHF de 1977, trapos, sacos, ferramentas enferrujadas. Esse depósito vai me dar trabalho...

O final do dia foi na forneria, digo, veleria. Devo encomendar uma genoa 2 e um jibe. Estou decidindo se vou fazer um balão assimétrico. O veleiro falou que estava quase tudo lá, mas as peças estão cobertas com tinha e eu vou ter que limpar tudo porque a tinta está impedindo o encaixe correto. Ele também me passou um dever de casa: mais medidas das ferragens e fotos da mastreação. Velas novas, vela velha, peças velhas, partes novas, com perseverança e pensando no meu farol, vou seguindo adiante.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Os insetos

Se Alfred Hitchcock ainda estivesse vivo iria sugerir que ele fizesse um thriller com insetos. E acho que a Florida seria uma boa locação.

De noite temos muriçocas e outros seres hematófagos. De tarde tem os "no see-ums" que são parecidos com os maruíns lá da Bahia (insetos pequenos que também mordem). E nesse época do ano tem os tais dos "love bugs"... Os love bugs não mordem, mas eles ficam pousando em você e é angustiante ver as nuvens desses insetos. Me disseram que eles foram trazidos para cá como parte de um experimento de controle biológico de pragas mas escaparam da Universidade (assim como as abelhas africanas que escaparam da USP no passado). O engraçado é que esses love bugs voam e andam grudados no seu par nessa época do ano (daí a alcunha de love bug). Agora eles estão morrendo e o interior do barco está cheio de "cadáveres" de inseto. Espero que no futuro não venham nuvens de gafanhoto ou de baratas.

O calor aqui está dureza... O termometro do carro chegou a marcar 40 graus do lado de fora... mas a temperatura está bem acima dos 35 graus. Imagine trabalhar nesse calor.

Ontem tive que ir em uma veleiria (lugar onde trabalham com velas). Bem, velerias requerem um espaço amplo para que vc possa abrir as velas. Pois então, na veleria que fui ontem tinha um teto baixo com telhas metalizadas... fazia um calor alucinante. Parecia um forno. Perguntei se eles não se incomodavam e disseram que já estavam acostumados. E que para minorar o problema trabalham sentados.

Abri minha vela mestra ontem. Confesso que fiqei surpreso pois era melhor do que eu imaginava. Pedi para colocar talas (integrais) e mais duas birutas. Vou colocar as duas talas de cima com perfil aerodinâmico e duas talas chatas na parte mais baixa da vela. Devo encomendar uma genoa, um jibe e um spin asimétrico.

No meio da tarde o mecânico finalmente apareceu. Se eu estava com calor, imagine na cabine de popa... e imagine o mecanico deitado em cima do motor no "calabouço". O mecanico fez um teste de compressão do motor... eu esperava melhores resultados, mas esá aceitável. A compressão recomendada é 400 psi. os resultados foram 350, 400, 425, 425. A bomba d'agua estava com o rotor danificado mas parecia em bom estado. O trocador de calor estava enferrujado por fora e com muita sujeira por dentro. Aproveitei e pedi para fazer um teste nos bicos e na bomba injetora. Resultados vem na semana que vem.

Tb pedi para o mecânico dar uma olhada na geladeira... Com esse calor, quero beber algo gelado e poder guardar comida no barco. A geladeira foi feita em 1994 e nunca foi usada. O mecânico sugeriu comprar uma nova. Estou pensando sobre isso. O argumento dele é que colocar gás, soldar os tubos e verificar o mecanismo vai sair caro e vale mais a pena comprar uma nova que já vem com gás e será mais confiável do que uma peça de 17 anos.

Por fim dei mais uma lavada no convés no final da tarde para tirar os liquens, algas e mofo que nasciam no antiderrapante. Detergente não funcionou, acho que vou ter que usar algum produto mais forte.

O fim da noite foi em um restaurante Tailandês... eu merecia comer alguma coisa quente. Geralmente passo o dia comendo frutas e barras de cereal.

Tentei conversar com minha mãe pelo Skype ontem, mas a conexão "de grátis" não está ajudando. As teleconferencias sobre o nome do barco tb acabam prejudicadas, mas la nave vá

Fui!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Descanso merecido

Não sei se foi porque eu estava cansado, ou se foi por causa das duas marcas diferentes de repelente e de um ventilador que o corretor me deu, mas consegui descansar na última noite. Contei para ele sobre a dificuldade para dormir e imagino que ele ficou com pena. Quando cheguei na casa dele para pegar as plantas do barco ele tinha um "kit anti mosquitos" preparado.

Lambuzado de repelente e com um ventilador colado do meu lado dormi profundamente.

O dia foi longo. Recoloquei o piso do barco para acabar com o risco dos alçapões (agora o único problema são os alçapões camuflados... mais sobre isso oportunamente); recebi a visita de uma firma que instala eletrônicos e também do cara que faz velas. O resto do tempo foi gasto tirando manhas do interior do barco, tentando fazer a bolina (quilha) abaixar (sem sucesso) e estudando as plantas do barco. Depois que o sol ficou mais fraco, lá para as 16:00 comecei a limpar o convès do barco com a lavadora a pressão. Wunderbar!

O mecânico não apareceu de novo, mas pelo menos hoje ele ligou. Prometeu que aparece amanhã. A ver.

Escurece aqui às 2015, antes de estar escuro eu atravesso o estaleiro para ir tomar banho. Na verdade eu atravesso tudo cada vez que preciso ir ao banheiro. Felizmente esse estaleiro é pequeno, especializado em barcos pesados. Não que meu barco seja monstruoso, ele é um dos menores por aqui. O problema é que ele é largo e esse é o unico guindaste em um raio de 40 km que iça a largura que eu preciso. Só para ter uma ideia, meu barco pesa 7 toneladas e o travelift deles suporta até 100 tons! Veja fotos do processo com outros barcos aqui.

Para variar no final do dia estou super cansado. Estou discutindo com J possíveis nomes. Não posso ficar chamando o trimarã de "barco sem nome" (isso não é um nome original).  Resolvi atualizar o blog e colocar umas fotos.

Como diria o gaguinho: That's all folks!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Transfusão - ou dia 2

Minha primeira noite a bordo foi boa até o momento em que o vento parou de soprar. A partir daí um enxame de muriçocas esfomeadas resolveu se juntar ao barco sem nome e a mim. Imagino que eram mosquitos religiosos pq decidiram fazer a santa-ceia conosco. Passei um repelente que tinha comprado na minha viagem ao Panamá mas não adiantou nada... como aqui nessa parte da Florida o fumacê passa dia sim dia não vezes por semana, repelente deve ser suquinho para esses pernilongos. E como o vento parou de soprar eu me tirava o cobertor e era atacado por mais mosquitos, daí recolocava o cobertor até não aguentar o calor. E assim foi a noite.


Resultado: acordei me coçando e cheio de marcas.. até pensei que ia precisar de uma transfusão de sangue.

Bem, mas eu não montei esse blog para falar de noites mal dormidas. Na verdade, tem gente que nem está sabendo, mas estou em um sabático. Resolvi antecipar um plano que eu tinha para o futuro: dar uma volta o mundo. Mas como eu gosto de barco, essa viagem tinha que ser velejando. Vou falar mais disso em outro post. O fato é que estou em Cabo Canavaral, na Florida (daqui até dá para ver o prédio da Nasa) reformando o meu "foguete".

O barco sem nome é um trimarã, uma embarcação com conceito de origem polinésia com 3 cascos. O casco central (habitável) e dois cascos laterais estreitos que servem para equilibrar o barco (e guardar coisas leves, como lenços, blocos de notas e afins).

Abaixo algumas fotos da minha primeira visita ao barco, no começo de abirl.






O leiaute interno é parecido com esse, mas alguns pontos diferem, principalment na parte da cozinha

Barco visto de frente. Reparem o emaranhado de cabos no mastro.



Só para evitar dúvidas, o barco sem nome é o branco ao fundo...


Hoje continuei usando um vaporetto embaixo de um sol escaldante dentro da cabine de popa (parte de trás do barco). Não preciso dizer que suei muito.

Descobri que aqui também existem os enrolões naúticos. No Brasil, para trabalhar com naútica você precisa furar encontros, desconsiderar prazos, aumentar o valor do orçamento. Aparentemente o mecânico que me indicaram faz parte desse time. Vamos ver se foi um evento isolado ou um traço de comportamento.

Ah, e por mais que eu tenha falado, no final das contas acabei caindo em um alçapão...

Terminei o dia em um Wal Mart 24 horas comprando comida, agua e uma lavadora de pressão. Dia 3 promete!

domingo, 8 de maio de 2011

1ª postagem, 1ª noite

Acampamento.

Isso é o que me passa na cabeça. Estou acampando em um espaço estreito, comprido, cheio de alçapões.

Improvisei um colchão com umas almofadas. Achei uma extensão velha e uma lâmpada fluorescente compacta, daquelas que se usa na hora de trocar o pneu do carro, e pronto: fiat lux, fez-se a luz e diminui o risco de eu cair em um dos paineiros (alçapões) abertos. Aproveitei para plugar o computador na outra tomada que sobrou. Ia escrever uma lista de coisas que eu tenho para fazer na reforma mas descobrir que o sinal do wifi da Marina do lado chega aqui, no estaleiro onde estamos. Sim, estamos: eu e um barco sem nome. O nome vai surgir, para o barco. O meu eu mantenho, obrigado.

Então, como ia dizendo, já que a internet funcionou, resolvi começar a escrever esse blog. Essa é uma demanda de vários amigo(a)s e colegas que querem saber novidades. Conversando com J conclui o que o melhor era fazer tudo em doses homopáticas. Daí, vou tentar escrever com uma certa regularidade.

Do lado de fora eu vejo os transatlanticos que partem com frequencia. É fácil reconhecer os navios da Disney: eles são os únicos que qdo buzinam tocam o tema do Magic Kingdom. Entretanto minha cabine está mais para mosteiro franciscano que para hotel flutuante. Não tem banheiro, não tem geladeira, não tem luz direito e tem os tais dos alçapões. Pelo menos hoje de noite está ventando. Mas eu estou empolgado. Para falar a verdade, estou empolgado há um bom tempo. É a "boa fase"...

O dono do estaleiro falou ontem que eu devia comprar um ar condicionado... ele achou estrnho eu querer ficar em um barco neste estado e me desejou boa sorte na minha empreitada.

Vamos ver como vai ser a noite. Amanhã eu conto mais. Torçam para eu não ter um ataque de sonambulismo e não cair em um buraco.

MP