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domingo, 12 de junho de 2011

Insônia

Pois é, madrugada do dias dos namorados e eu acordei no meio da madrugada e não estou conseguindo dormir... enquanto o sono não vem, vou fazer alguns comentários.

Fazendo uma leitura crítica do blog, percebi que não estou escrevendo quase nada sobre aventura, turismo ou mudança climática... propaganda enganosa. Espero que o Conar não venha atrás de mim. O site deveria se chamar algo como "a arte pouco Zen de manutenção de embarcações" para parodiar o livro do Robert Pirsig. Infelizmente, essa etapa é parte de um processo que vem sendo concebido há bastante tempo mas só foi disparado há um ano.

Se não me engano era junho. Uma madrugada chuvosa na Vila Madalena, esperando um ônibus que não chegava, quando me perguntaram se eu tinha algum sonho. Retruquei que queria dar a volta ao mundo de barco. A velocidade da resposta, sem titubear, revelava a seriedade da ideia. Mas não tive resposta para a segunda pergunta: "e o que você está fazendo para tornar isso realidade?" Fiquei desarmado... leio sobre isso desde que Amir Klink me hipnotizou, aos 13 anos, com "100 dias entre o céu e o mar". Aleixo Belov, Joshua Slocum, Bernard Moitessier, Rob Knox-Johnton, Eric Tabarly, os Schurman foram alguns dos outros autores que ajudaram a colocar lenha na fogueira. Mas essa viagem sempre ficava para o futuro, para quando eu tivesse dinheiro, para quando eu tivesse família constituída, para quando eu estivesse aponsentado, para quando... A chuva caia forte, nenhum ônibus passava, e nenhuma resposta aparecia na minha mente. Mencionei, com pouca segurança, um tal de "projeto se jogue" que eu tinha mencionado para o Felipón alguns meses antes: começar a viagem aos 40.

Minha interlocutora escutou o que eu dizia junto com o ruído cadenciado dos pingos de chuva. Disse que era muito bonito ter um sonho, mas que eu tinha que pensar mais sobre isso. E deu o golpe de misericórida com ao dizer com um sorriso "você é engraçado: mora em Brasília, veleja em um lago e quer dar a volta ao mundo de barco". Para minha sorte ou azar o ônibus chegou.

De volta aos dias de hoje, e à minha insônia, posso dizer que aquela noite chuvosa foi um dia de despertar. Um turbilhão de coisas que eu tinha na cabeça começou a fervilhar a partir daquela momento. Eu não estava mais casado nem namorando, não tenho filhos, nem cachorro nem gato. Minha mãe estava bem de saúde, meu irmão também. Meu contrato do trabalho só ia até o meio do ano, com uma possível extensão até dezembro. O contrato de aluguel do meu apê vencia no final do ano. O real estava valorizando constantemente em relação a outras moedas. E principalmente, como disse Martin Luther King: "eu tenho um sonho".

Nada me prendia e havia um alinhamento interessante de fatores. Eu decidi que essa era a hora. O projeto se jogue podia começar. Assim, quando fui para o Panamá visitar um amigo contei para ele a ideia, ainda bem crua. Ele gostou, só pediu mais atenção a aspectos profissionais e ao planejamento.

Fui polindo a ideia e todo dia olhava barcos à venda na internet. No começo no Brasil, mas por falta de opções e preços elevados comecei a olhar barcos fora, principalmente nos EUA e Canadá (por não ter VAT, maior oferta, preços mais baratos e facilidades para reforma - que ironia).

Aos poucos fui contando para outas pessoas. Amigos primeiro. Para J que ainda não era J. Contar para minha mãe foi dificil... coitada. Se sentiu culpada de ter criado um filho que quer ir além do jardim. Calma mami, eu sou assim, você sabe: intercâmbio, Brasilia, trabalho na área internacional. Eu quero ver o mundo por diversos prismas.

Também contei para minha chefa que lutava para conseguir uma renovação de contrato para mim. Lembro que respondi do celular, no meio da COP em Cancun, que tinha certeza que não queria uma prorrogação de contrato. Isso era dezembro. Mas em novembro eu já tinha avisado a imobiliária que não iria renovar o contrato. Estava cortando as amarras.

Vou tentar dar um cochilo agora... os primeiros raios de sol já começam a surgir.

Despeço-me com uma frase de Mark Twain que espero que ajude vocês a entender o que passa pela minha cabeça. Não é loucura, é vontade de viver.


"Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez. Então solte suas amarras. Afaste-se do porto seguro. Agarre o vento em suas velas. Explore. Sonhe. Descubra. "

Mark Twain

4 comentários:

  1. Sabe aquelas coisas que você lê e o mundo depois disso parece um lugar bem melhor do que era? Grato meu amigo...É isso aí, alimente-nos de sonhos e durma tranquilo sobre os louros dos esforços em ser o que quer ser, sempre. O nosso coração retira as amarras e o corpo fica leve, etéreo de verdade. Realizar é Ser.
    bertold brecht:
    Há homens que lutam um dia, e são bons;
    Há outros que lutam um ano, e são melhores;
    Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
    Porém há os que lutam toda a vida
    Estes são os imprescindíveis


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    Do rio que tudo arrasta se
    diz que é violento
    Mas ninguém diz violentas as
    margens que o comprimem

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  2. Maravilhoso a leitura deste seu texto Pontual. Vc é uma cara inspirador, estou acompanhando de perto este seu projeto. vá com tudo meu brother!!!

    Tarobão

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  3. Muito legal a citação de Mark Twain. Se for ler com atenção, o que ele está dizendo é, verdadeiramente: "SE JOGUE!!!"

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  4. Que beleza, Mr. Sharp... inspirador mesmo. . Estamos aqui torcendo para dar tudo certo. E assim que você começar a desenhar o itinerário, eu começo a planejar a interceptação! :-)

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