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segunda-feira, 20 de agosto de 2012

The dream is over, ou como fazer uma limonada

Nunca pensei que fosse escrever esse post. Quando estamos em um projeto grande que envolve sonhos temos as coisas mais ou menos delineadas, imaginamos o que vai acontecer. Sabemos que imprevistos podem surgir, mas torcemos para que, de uma forma ou de outra, as coisas acabem bem. Quero dizer, da maneira que imaginamos. Por isso sempre imaginei escrever sobre o final da circunavegação, o momento em que cruzaria o meridiano de partida.

Antes de seguir, queria esclarecer uma coisa. Sempre fui um cara muito chato. Cricri, detalhista, minucioso, rigoroso. Durante a maior parte da minha vida eu sempre reclamei do que não consegui fazer. Para mim era difícil olhar para trás e ver o que conquistei e me lamentar pelo que não foi feito, pois o que foi feito não era suficiente ou bom o bastante.

Não quero hoje demover pessoas de seus sonhos. A mensagem, apesar do título, é que é preciso insistir. Vá até onde der, até onde você se sinta que dá para ir. Mas atenção, você tem que sair de sua zona de conforto. Quem quer correr uma maratona não pode parar na esquina porque se cansou... Imagino que se um sonho fosse fácil de realizar ele não seria um sonho. Agora, quando começar a ficar chato, gerar desconforto, chegou a hora de parar e fazer a contabilidade. E é importante perceber isso o quanto antes e ter certeza do que está acontecendo.

Eu cheguei nesse ponto. A volta de Galápagos é o que precisava ser feito. Era a coisa certa. Não sou suicida e ainda por cima tinha tripulação. Poderia ter chegado, forçando a barra até Galápagos. Mas seria difícil seguir adiante e não valia a pena o risco de forçar o barco, nossa saúde ou bem estar, por mais um "país visitado". E já tinha ido ao Equador antes ;)

Voltar foi duro... o resto, as decisões, são coisas que vem me ocupando a mente. Está tarde para cruzar o Pacífico. As pessoas que fazem isso começam em abril maio, porque no final de novembro começa a temporada de furacões. E depois tem furacões no Índico. Seria correr demais. Não daria tempo de cruzar quase meio planeta.

Agora tenho que pensar nos próximos passos. Poderia ficar velejando pelo Caribe, mas a temporada de furacão por lá vai até novembro. Meu caixa está baixo. Tinha planejado seguir velejando porque velejando se gasta muito pouco dinheiro. A grana se esvai nas paradas. O Caribe, cheio de ilhas próximas uma da outra se tornaria um sangradouro de recursos.

anjin era a ferramenta para realizar um sonho. Eu sabia que não poderia mantê-lo ad infinitum. A legislação brasileira não permite a importação de barcos usados, logo vendê-lo já era parte do projeto desde o dia em que o comprei. A diferença é que terei que antecipar essa etapa. Descobrir onde, como e quando.

Mas voltando ao começo do post, estou muito orgulhoso. Consegui criar coragem para partir, encontrar um barco, comprá-lo, reformá-lo com pouca ajuda, fazer uma longa perna em solitário, cruzar o canal do Panamá, convenci duas pessoas super capacitadas a me acompanhar (e várias outras que não puderam aparecer por motivos de força (e filhos) maior). Logrei manter um relacionamento, ainda que com dificuldades, apesar de um ou mais oceanos e várias horas de diferença entre nós. Vivi mais de seis meses sem geladeira ou sem água corrente. Aluguei carros quando precisei mas a maior parte do tempo foi com uma bike e transporte público. Fora a grana com o  barco gastei muito pouco... vivi frugalmente um sonho 24 horas. Literalmente eu dormia e acordava nele. E sou agradecido por isso.

O futuro?! Não sei, o tempo dirá. Espero voltar e conseguir logo um novo dono para o anjin. Também tenho esperança de continuar servindo de inspiração para que pessoas deem aquele passo na direção da realização dos sonhos. E já tenho um novo projeto engatilhado, algo mais ambicioso, porque envolve prazos longos e outra pessoa.

Se você tem interesse em comprar um barco pronto para uma volta ao mundo, ou conhece alguém que possa estar interessado, me avise.

Vou me despedir com uma citação que me marcou muito... Posso falar para Mark Twain, com orgulho, que segui suas recomendações: soltei as amarras e velejei meu sonho, sozinho no meu barco, nos alíseos. Explorei e descobri muito mais sobre mim do que imaginava. Um brinde a isso!


"Twenty years from now you will be more disappointed by the things that you didn't do than by the ones you did do. So throw off the bowlines. Sail away from the safe harbor. Catch the trade winds in your sails. Explore. Dream. Discover.
Mark Twain"



2 comentários:

  1. Foi um grande prazer acompanhar este blog e sua aventura e seu sonho por meses. Confesso que dava ciúmes das visitas de J, pois vc sumia. Mas olhar o blog todo dia, esperar um novo post, era mto legal. E olha que as vezes eu tinha informações privilegiadas com Breu. Deixo aqui o meu mto obrigado e um "até breve". Abraços, Fosgate

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  2. Fosgate, obrigado pelo apoio e por comentar e seguir o blog. Entretanto já aviso que a aventura ainda não terminou, só tomou um rumo diferente. Siga acompanhando para mais novidades. E quando for em SP, vou querer te conhecer. Um abraço,

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