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domingo, 26 de agosto de 2012

Um pequeno passo para um homem...

Hoje morreu uma figura que marcou minha infância. Por mais que muitos afirmem que o homem nunca chegou à lua, que tudo o que foi televisionando no final dos anos 60 uma grande armação, ou como diz a música Californication do Red Hot Chilli Peppers "Space may be the final frontier But it's made in a Hollywood basement", eu acredito. Eu acredito na determinação das pessoas em correr atrás de seus objetivos e fazer as coisas acontecerem.

Assim como muitos outros garotos, e acredito também que algumas garotas, por muito tempo sonhei em ser astronauta. Inclusive, uma das razões que eu fiz engenharia foi saber que diversos dos astronautas eram engenheiros (e até começar a estudar engenharia achava que MacGyver também fosse um). Depois da fase espacial, influenciado por Hollywood, pensei em ser Indiana Jones. Acho que nem tanto por ser arqueólogo, mas para poder ter a desculpa de usar um chapéu Fedora e poder exercitar o meu sarcasmo. Mas sempre ficou o espírito Armstronguiano... um legado mais forte do que o significado do nome. Tanto do Neil quanto, mais recentemente, do Lance.

Não acho que esteja fazendo nada de excepcional hoje em dia. Não estou seguindo os conselhos do Capitão Kirk e indo mais além do que qualquer homem (ou mulher) jamais foi. Para falar a verdade, estou fazendo uma coisa que é muito mais comum do que se imagina. Se olharmos para o passado tudo era transportado por barcos a vela. Agora convenhamos, muitos desses homens (sorry ladies, agora era só homens mesmo) eram Neil Armstrongs de suas épocas. Enfrentando o desconhecido, o escorbuto, a solidão, fome, e principalmente o fim do mundo.

Hoje eu tenho motor, gerador, painel solar, GPS, telefone via satélite, balsa salva vidas, mais comprimidos e remédios que qualquer um desses marinheiros jamais sonhou. Mas ainda compartilhamos os caprichos do vento, o frio, a lua, estrelas, a cama úmida, roupas molhadas, a tensão de se tudo vai dar certo e a alegria de chegar em terra novamente.

Li em um desses livros que tem um ponto no Pacífico Sul, perto do Cabo Horn que foi menos frequentado do que o espaço, tamanho é seu isolamento. É um desses lugares que animariam o capitão Kirk e que seguidores do Neil Armstrong. Mas não é minha ambição chegar lá (agora)... quem sabe na época dos cruzeiros polares, mas isso é outro departamento.

Muita gente já deu a volta ao mundo à vela. Alguns em barcos que eram pouco maiores que uma banheira.  E eu mal fiz 10% disso, pois 21000 milhas naúticas caracterizam uma circumnavegação. Mas estou contente, e satisfeito. Estou em um ponto que consigo perceber que daqui para diante era uma questão de mais tempo no timão. Claro, e de novos portos, novas burocracias, novos temperos, novos pantones de cor de água do mar e, claro, novos imprevistos. 

Por falar nisso, nessa semana encalhamos o barco, propositalmente. Tiramos proveito dos mais de 4 metros de variação de maré que tem por aqui para colocar o anjin no seco para ver o que aconteceu quando o cabo enroscou. E já que ia encalhar o barco aproveitei para dar uma limpada no fundo e encerar os cascos.

Com o barco no seco percebi que o que aconteceu foi que o pé de galinha empenou para o lado. Como o tempo entre marés é limitado não deu para realizar o conserto no mesmo dia e por isso anjin teve que ser encalhado mais uma vez ontem. Admito que o segundo encalhe foi muito mais tenso do que o primeiro. Na segunda vez o barco foi encalhado com a popa para a praia e isso causa uma série de dificuldades. Como miséria pouca é bobagem, nesse dia uma das catraias de apoio do iate clube estava quebrada e tivemos que colocar o barco na posição correta no braço, usando as catracas para puxá-lo para a posição correta.

Uma vez com o barco no lugar, pela segunda vez, o mecânico tentou retirar o pé de galinha. Eu já tinha dito para ele que não seria fácil. No final das contas ele não conseguiu tirar a peça (e consequentemente o eixo). A solução foi aplicar calor na peça e puxá-la com um sistema de cabos e polias. Esteticamente não ficou muito bonito mas funcionou. Testamos, brevemente, o barco em diferentes rotações e não escutamos o ruído nem as vibrações de antes. Acho que estamos prontos para atravessar o canal no sentido oposto. Agora é tratar da burocracia da travessia. Como disse o célebre Neil, é um pequeno passo para um homem, mas muito importante para mim e meu projeto.

3 comentários:

  1. Oi Márcio! Gostei do seu texto.. não conhecia o seu blog.. agora vou acompanhar por aqui.
    Uma dúvida: o que é um pé de galinha? rs

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  2. Oi Rê,

    Fique sintonizada para mais novidades.

    Pé de galinha no barco não são rugas, mas sim uma estrura metálica que prende o eixo do hélice (sim, na naútica hélice é masculino)ao casco do barco para evitar que ele se desloque lateralmente. Imagino que no inicio deviam ser tres peças que sustentavam o eixo, por isso o nome pé de galinha, mas atualmente é apenas uma peça chata com um espaço para o eixo passar por dentro dela.

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  3. obrigada pela aula.. ; )
    Estou sintonizada.. já está nos meus favoritos..
    bjs

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