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sábado, 21 de abril de 2012

No seco outra vez

É engraçado estar de volta ao estaleiro um ano depois. Nesse época no ano passado eu tinha içado o barco e estava brigando para conseguir fazer a transferência internacional para pagar o corretor.

Só que agora estou mais tranquilo, ou quem sabe mais resignado. Com praticamente um ano de experiência com anjin já estou conseguindo olhar as coisas de maneira meio diferente. Se não consegui ainda dar minha tão sonhada velejada, fico feliz de ter conseguido morar um ano em um barco. Dá para sintetizar a experiência como exercício do desapego e a paradoxal vida em que um dia é quase igual ao outro mas em que subitamente surpresas aparecem  no caminho, tal qual o duelo entre Titanic e Iceberg.

O cara da fibra lixou a quilha e deixou a fibra exposta. Foi mais rápido do que imaginei. Tinha muitas camadas de tinta por lá. Além da minha pintura verde tinha umas duas camadas de tinta vermelha e uma de preta, além de uma tinta branca de acabamento, talvez gelcoat. Icei e abaixei a quilha algumas vezes e aparentemente ela está funcionando bem. Mas dentro d'água tudo é diferente.

Ontem resolvi tentar reduzir o custo fixo de içar o barco (e gastar mais grana, infelizmente). Já que o barco está no seco e levantado vou aproveitar para dar uma nova demão de tinta no fundo, isso vai me dar mais um ano de proteção. A tinta desgastou bastante lá no rio... só limpamos o casco uma vez e a sujeira do rio, a correnteza e o constante balançar não ajudaram nada. É verdade que quando içamos o barco em dezembro deu para dar uma limpada, mas agora tem lugares onde o primer já está aparecendo. Entretanto, a pintura continua funcionando direito e tinha muito poucas cracas (em compensação tinha umas algas feias, escuras que estão se proliferando no rio... disseram que é uma nova espécie, que está dizimando as cracas... pelo menos essas algas soltam mais fáceis que as cracas - mas elas crescem muito mais rápido e imagino que podem causar mais danos ao entrar dentro de bombas e outras tubulações sem filtro).

Um dos pontos que me chamou a atenção dessa vez aqui no estaleiro foi a presença de um "barco aproveitador" fazendo reparos aqui. Bem, vou chamar assim na falta de uma palavra melhor. É um velho barco de madeira antes utilizado na pesca de camarão. Pois bem, um haitiano comprou o barco, removeu todos os artefatos de pesca e utiliza o barco para transportar o que é considerado lixo daqui para o Haiti. Ele leva bicicletas velhas, pneus semi-usados, moveis, colchões, o que aparecer pela frente e vende quando chega no Haiti. Confesso que o lixo daqui pode ser bastante tentador algumas vezes, mas eu ainda questiono essas manobras... não sei se ele leva doações para vender. O corretor que eu comprei o barco disse que levava doações para Cuba para poder acessar o país e driblar o embargo americano. E o interesse dele não era nada humanitário: era tazer charutos e rum de lá para os EUA. E a comercialização de doações é mais popular do que se imagina, tanto direta quando indiretamente. É um caso conhecido o dos garimpadores de doações que tem representantes em países africanos que identificam as peças valiosas e as enviam de volta para os países ricos para serem vendidas em brechós.

Mas vamos nessa, tenho que acompanhar o processo de limpeza do casco. Estão lavando o casco com um jato forte de água. O problema é que isso remove ainda mais da tinta que resta, mas se lixar além do gasto da tinta ainda tem o risco de impregnar a sujeira ainda mais fundo na tinta, e é preciso limpar o casco para pintar.

Já troquei os zincos do barco e comecei a tirar a hélice atual. Estamos aqui esperando uma tempestade chegar... teoricamente vai ser severa, com 3 polegadas de precipitação e até possibilidade de granizo. Como falei, um dia é igual ao outro mas com possibilidades de surpresas.

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