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domingo, 6 de maio de 2012

As milhas de pedra

Tem umas expressões em inglês que são bem legais. Uma que gosto muito é a milestone, o título desse post. Historicamente eram as marcações de milhas nas estradas romanas e vocês, como bons estudantes de história, devem lembrar que a milha eram 1000 passos de um legionário romano (só lamento se o cara tivesse perna curta).

Hoje me deparei com uma dessas pedras no meu caminho. Meu primeiro aniversário no projeto. Há um ano  aterrissei em Miami, aluguei  um carro e fui para o estaleiro ver o barco, crente que em três meses tudo estaria resolvido e logo estaria começando minhas navegações. Sempre pensei muito nesse projeto em relação à distância e tempo de navegação, mas não de preparação.

Conversando com J, fiz um resumo desse projeto, a razão de ser do meu sabático. O maior aprendizado até agora foi tentar relaxar e deixar as coisas fluírem. Para mim isso não é fácil. Adoro planejar, imaginar e executar, mas essa empreitada está sendo muito diferente. As surpresas são muitas. Na verdade tem horas que até acho que estou em um campo minado. Nunca sei se o próximo passo vai ser tranquilo ou explosivo.

Um ano depois tenho um barco quase pronto, um orçamento estourado e praticamente nada navegado. Entretanto, nesse intervalo consegui tocar uma obra cujas dimensões e complexidade ultrapassam o trivial; logrei manter um relacionamento; vivi só, vivi acompanhado; fiz viagens de curta duração para manter minha sanidade e matar saudades. Se tudo terminasse hoje ficaria orgulhoso de ter chegado até aqui, ter superado as privações do início, viver em um barco (na água e no seco) por todo esse tempo, presenciar amanheceres e por do sol lindos, acompanhados de golfinhos, peixes boi, e peixes escamosos. Percebi até que tem gente por aqui que, da maneira deles, se preocupa comigo (ou tem pena) e tentam, na maneira deles, ajudar. Já foi mais tempo do que quando fiz intercâmbio. E se por um lado tem o lance de viver em outro país novamente, por outro lado não tem a mesma interação com a sociedade, o que me leva a classificar a situação com um "exílio voluntário".

Importante esclarecer que as coisas tomaram esse rumo por causa das prioridades que dei. O imediato viveu aqui menos tempo que eu mas conhece muito mais da cidade e dos estabelecimentos. Sou um  homem com um objetivo,  espero poder atingi-lo em breve. Esse projeto é um sonho de longa data, vou me esforçar para torna-lo realidade, mas se perceber que a coisa está tomando um aspecto muito negativo, abortarei a missão. Como acabei de explicar, é para ser a materialização de um sonho e não de um pesadelo.

Ontem e hoje tenho trabalhado no acabamento do barco, para me livrar de  um monte de madeira que tem aqui por dentro. Basicamente estou colocando anteparas nas prateleiras para evitar que as coisas caiam e também estou montando pequenos detalhes. Aproveitei a relevância da data para colocar o presente de natal que o Felipón enviou. A primeira obra de arte do barco que ao mesmo tempo é um pedido de proteção. Como os ideogramas permitem múltiplas interpretações e também levou-se em consideração o significado de angin (vento em indonésio), tem se a frase, em uma interpretação livre minha baseado no doc de apoio do presente:

"Que os ventos, anjin e eu nos protejamos mutuamente."


Sob a luz da mega lua refletindo no Indian River me despeço de vocês.




3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá, se der, por favor, coloca o provável dia e hora pra podermos acompanhar via online a saída do Indian River...

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  3. Sim, já pensei nisso. Quero poder avisar com antecedência para vocês poderem acompanhar a partida ao vivo.

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