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sábado, 12 de maio de 2012

Jardins de pedra

Não tenho vergonha em confessar que a maior parte dos meus parcos conhecimentos sobre cultura japonesa são frutos da leitura de Xogum durante minha adolescência. Sim, foi um livro que marcou, primeiro porque tem mais de 1000 páginas e segundo porque foi a descoberta de um mundo novo. Ele influenciou minha decisão de querer fazer intercâmbio e despertou meu interesse pelas diferenças culturais. Então, se puder, vá ler o livro, conheça o anjin-san.

Um dos pontos que chamou minha atenção no livro foi o anjin-san explicando os "jardins de pedra". De acordo com o alter-ego do James Clavell, os samurais ficavam fitando o jardim para relaxar, concentrar-se e exercitar a paciência. Para isso eles observavam "as pedras crescerem".

Agora me vejo exercitando minha paciência. O mecânico ainda não apareceu. Estou em uma situação delicada porque já estou sentindo que o dono da oficina está ficando incomodado com minhas ligações quase diárias. O cara da veleria me confirmou que essa época é uma das mais movimentadas na região e que a oficina deve estar realmente cheia. A dificuldade é que bons mecânicos são poucos. Achei esse cara honesto e gostei do serviço dele (após minhas desventuras com outros dois (quase três) mecânicos).

Eu deveria me acostumar com isso. Acho que minha grande dificuldade é já ter ficado aqui por tanto tempo e estar pronto para sair. Mas vela requer paciência. Saber o tempo certo para partir, esperar a maré correta para entrar em um porto, esperar o peixe morder a isca, esperar o vento aparecer ou acalmar, esperar a hora de ir descansar e mal poder esperar para abraçar e beijar novamente a mulher que ama ;)

Então, tenho que ver as pedras crescerem e começar a pensar em um plano B (e até mesmo em um C). Pensei também que tenho sorte de estar esperando um mecânico para consertar um motor, e não esperando um órgão para transplante ou milhares de possibilidades de espera muito piores.

Nesse meio tempo terminei de instalar as luminárias e ventiladores. Ontem troquei a corrente antiga da âncora pela corrente nova; medi quanto tenho de cabo de nylon para ancoragem; comecei a jogar coisas fora; dei a corrente velha.

E na quinta feira passei a tarde consertando o vaso sanitário. Saiu uma água com uma cor suspeita e um cheiro pouco agradável. "It is a dirty job but someone gotta do it", como já dizia o Faith no More. Tive que furar novamente os suportes para a válvula porque com a nova posição das mangueiras a furação antiga não funcionava. No final, o vaso está funcionando a contento.

Com toda a chuva que teve por aqui na semana passada o nível do rio deu uma subida. Fica bem mais fácil para entrar e sair do barco. E graças ao vento forte que começou a soprar ontem (e principalmente pelo sol porque parou de chover) as baterias saíram do mínimo para o máximo. A vida pode ser boa e simples.

2 comentários:

  1. Anjin-são e salvo e o que importa, se para isso e necessário esperar um pouco mais..

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  2. Meu caro, fico contente que as luminárias, a corrente e o vaso sanitário estão 100%! Passos importantes, pois 10 horas trabalhando nisso ai valem menos que 10 minutos livres em Curaçau, BVI, Bahamas, Panamá...
    Aproveite mesmo pra esvaziar mais o barco, curtir a mini-cidade de Cocoa e, principalmente, correr, se exercitar... afinal, terra firme vai ser cada vez mais ocasional. E tocar o violão, né, brother? Se o mecânico demorar pouco, vc tira uma música, se demorar muito, vc já sai do porto com um repertório maior! Sem tempo ruim. Afinal, não navegamos no mar, mas COM o mar, e dependendo das pessoas no mundo náutico. O importante é o rumo e vc tem bem claro o teu!
    Gostei das palavras sobre Xogum!
    Abraços
    PS: conversando com meu pai há pouco - outro frequente leitor do seu blog - ele me lembrou que esse vazamento de óleo pode estar relacionado com o superaquecimento que tivemos no teste no rio... veja se isso ajuda no diagnóstico!

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