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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Banho de água fria

As coisas por aqui andam movimentadas. Estou tentando preparar minha partida. Não posso esconder que além da empolgação também bate um frio na barriga... Robs fez um comentário interessante sobre isso hoje. Ele disse que algumas pessoas que ele conhece chamam isso de "numinoso", algo que dá medo e atraí ao mesmo tempo. Talvez seja pelo fato de eu estar "terreado", descrição da J para a versão de ficar mareado em terra. Quem sabe eu já esteja ancorado a tempo demais. É hora, definitivamente, de partir.

Ontem o mecânico terminou o motor. Ele removeu a tampa lateral da transmissão e levou para a oficina para colocar um novo retentor. O retentor havia partido bem no meio... estranho, uma vez que ele não recebe nenhum esforço lateral. O novo retentor, uma peça de plástico, precisa ser colocada no lugar com uma prensa, por isso que ele levou a peça para oficina. Espero que agora os problemas dos vazamentos estejam resolvidos. Ah, e eu também pedi para ele trocar o pré filtro de diesel, isso revolveu acabou com o vazamento que me acompanhava desde que vim para essa marina. Ficou claro que a causa era algum defeito no filtro anterior. Bom saber.

Fui na veleria hoje perguntar quando chegam meus cabos e os moitões para o screecher. Fui informado que amanhã tudo deve estar aqui. Fica faltando apenas colocar um moitão de pé para a escota da mestra que tende a subir na catraca. Um moitão vai permitir que ela mantenha uma altura fixa de entrada na catraca.

E também resolvi vários detalhes pequenos pelo barco: joguei madeiras fora, coloquei o suporte do motor de popa no lugar, estudei a situação das baterias no compartimento do motor para providenciar uma fixação, limpei o compartimento do motor, removi cabos elétricos desnecessários, fiz um batente de borracha para quando a quilha subir de vez não acertar direto na madeira e reduzir a possibilidade dela ficar travada (para isso corteis dois pedaços de havaianas, colei um no outro e depois fixei no compartimento da quilha).

Agora o fato mais importante foi o mini-acidente no domingo. Muita adrenalina rolou nesse evento. Domingo eu me flagrei com a bateria da furadeira descarregada, sem parafusos do tamanho correto para colocar o suporte do motor de popa no lugar, com as madeiras todas cortadas. Não tinha muita coisa que desse para fazer nessas circunstâncias então resolvi dar a primeira volta no bote inflável. Reli o manual de instruções do motor, chequei o nível do óleo, abasteci com gasolina, tirei a capa do bote e o coloquei na água, dei um jeito de colocar o motor de popa lá dentro. Não foi muito fácil. Como já antevia problemas, amarrei um cabo no motor de popa e outra ponta no anjin (depois que o motor estava no bote, amarrei a ponta solta no suporte do remo, por las dudas).

O motor pegou razoavelmente rápido. Tive que insistir algumas vezes e usar o afogador. Dei minhas voltas pela marina. Não deu para ir muito longe porque o vento estava meio forte e tinha um monte de ondas pequenas que faziam o trajeto molhado e pouco confortável.

Voltei para o anjin. Amarrei o bote pela proa e pela popa e fiquei imaginando como colocar o motor de volta à bordo. Apesar das amas do anjin não serem tão altas, não era fácil puxar o motor de cima para baixo. A solução mais fácil pareceu ser colocar o motor no barco a partir do bote. Então que aconteceu a surpresa. Algum barco grande passou pela ponte e como estava de costas não vi as marolas se aproximando. Então tudo saiu de controle. Metade do motor de popa no anjin, metade em minha mão, o bote indo para cima e para baixo, para frente e para trás. Perdi o equilíbrio e acabei caindo na água. Não sei exatamente como, mas ainda consegui evitar que o motor mergulhasse de cara. Mas o motor foi pendendo cada vez mais para cima de mim e não deu para segurar. Não tinha o que fazer, só esperar que o cabo e o nó segurassem a onda. Não lembrei dos jacarés, dos peixes bois nem das águas vivas. Fiquei tão desesperado com o motor novo dentro da água que rapidamente subi no bote, pulei para o anjin e de lá puxei o motor pelo cabo. Adrenalina.

Um motor submerso deflagra  uma corrida contra o tempo. Quando mais tempo você demora para consertar, pior vai ficando a situação. Mais adrenalina. Eu tinha comprado um manual de oficina para motores de popa da Yamaha. Foi caro mais já valeu a pena. Lá eles falavam: você tem 3 horas para levar o motor em uma assistência técnica antes que o processo de corrosão atinja proporções danosas. Era um domingo, já passava das cinco da tarde. Eu não tinha muitas opções. A sugestão deles era mergulhar o motor em um tonel com água doce até que pudesse levar o motor para a assistência técnica ou tentar fazer os reparos eu mesmo. O resto da matéria apontava isso como o maior abuso que um motor de popa pode sofrer. Paciência motorzinho... Primeiro coloquei o motor de pé, lavei tudo com bastante água doce. Depois que o motor estava mais seco apliquei WD40 para remover a umidade do sistema elétrico. Fiquei desesperado buscando uma chave de boca que desse para sacar a vela do motor. Nada. E o tempo passando. Fiquei meio perdido. Tentei ligar para a J, mas sem sorte. Lembrei do meu curso de mecânica, do que eu já tinha lido sobre reparos de motores de popa e resolvi seguir adiante. Sabia que o tempo estava contra mim.

Primeiro peguei o kit de peças extras que eu tinha comprado. Separei uma vela nova, pois ela que ia, se tudo desse certo, ressuscitar o motor. Chequei a medida da chave que precisava para a instalação. Então montei na bike, cruzei a ponte e fui para a loja de ferragens que ainda estava aberta. Eles não vendiam uma chave soquete do tamanho que eu precisava avulsa (obs: eu tinha uma chave do tamanho correto, o problema era que ela era curta e não encaixava em toda a vela). Comprei um kit e outro WD. Bicicleta novamente e uma volta em tempo recorde. Incrível o que essas situações são capazes de fazer.

Chegando a bordo o motor já estava seco (o problema é que o sal também seca). O fato da água ser salobra torna a situação menos pior. Tirei a vela e deitei o motor de lado, exatamente como o resgate de um afogado. Saiu água de dentro do cilindro... mal sinal. Então fui, aos poucos, puxando a corda de partida. Umas vinte vezes. O objetivo dessa manobra, a massagem cardio pulmonar no motor era tirar a água do cilindro, válvulas e escapamento. Depois drenei toda a gasolina do tanque, que também devia estar contaminada. Abri o dreno do carburador (saiu água também). Pior do que eu imaginava. O manual explicava que a transmissão é selada e não deve ter problema de contaminação. Como o motor é novo, acreditei nisso. Mas o cárter não ia ter salvação.

Peguei a bomba de óleo manual e comecei a bombear. No começo só saiu água, ou seja, tem que drenar todo o óleo e limpar o sistema. Isso já era mais de 20:00. Depois de muito trabalho para achar uma chave de boca que servisse consegui sacar o bujão de óleo. Primeiro saiu a água, depois o óleo. Então saí de bike pelas ruas escuras de Cocoa em busca de um posto que tivesse óleo para vender aquela hora. Apesar o motor só precisar de 600 ml (uma cerveja de garrafa), o manual recomendava, no caso de contaminação, lavar o cárter do motor com pelo menos um litro de óleo. Despejei o óleo no cárter, com o bujão aberto, enquanto mexia o motor de um lado para o outro para permitir que o óleo levasse toda a água que ainda estivesse alojada lá dentro.

Depois coloquei uma vela nova, mais WD, gasolina, um balde com água doce para funcionar o motor. Improvisei um suporte para o motor e comecei o tedioso processo de puxar a corda para que motor começasse a funcionar. A cada 20 ou 30 puxadas da corda eu desconectava o plug da vela, colocava WD, removia o excesso e tentava novamente. Acho que depois de uns 2 ciclos desses o motor deu sinal de vida. Isso não significa que ele passou a funcionar, mas sim que eu voltei a ter forças para puxar a cordinha.

O motor voltou a funcionar. Meio titubeante no começo, mas depois voltou a full. Deixei ele funcionando por pelo menos meia hora, como falava o manual de oficina. Depois disso comecei uma série de testes de liga e desliga e de usar toda a gasolina do carburador. Quando terminei os procedimentos já era quase meia noite. Não tinha comido nada, só tinha bebido um pouco de água e andando de cima para baixo com uma lanterna na cabeça. Estava esgotado, mas a adrenalina foi o combustível.

Mas a novela não terminou ali. No dia seguinte testei o motor várias vezes, ligando a cada uma hora para ver se ele pegava fácil. Funcionava, mas tinha que usar o afogador, que é considerado normal de acordo com o manual. Troquei o óleo mais uma vez.

Depois de um curso relâmpago, na marra, de manutenção de motores de popa, estou mais perto da partida. Só preciso agora é aprimorar o processo de içamento do motor, porque até agora não foi positivo, e esperar que todos os roxos que estou nos braços desapareçam.

4 comentários:

  1. Que sufoco, bixo! Só a narrativa já deixa o leitor exausto.
    Pra subir o motor, ao invés das amas, será que não dá pra usar as redes de popa? Acho que são mais baixas que a ama. E talvez dê pra improvisar uns ganchos junto aos estais e o motor ficar pendurado ali, suspenso acima d'agua, enquanto vc sobe com o bote.
    Tá chegando, tá chegando o sonhaado zarpar!
    Abs

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  2. Em bom baianês, TOMOU UM CALDO hein! Considere um BATISMO. Roxo no braço sai fácil. Imagino o trabalho e o esforço, mas lembre dos tempos do NPOR que você vai conseguir. Só tenho quatro coisinhas pra te dizer nesse momento: RAÇA, FIBRA, SANGUE, MORAL!

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  3. Galvânico, estou vendo aqui o que fazer. No estai não dá, vou tentar colocar um gancho naqueles pontos de fixação do balão nas amas (aquela placa de inox cheia de furos). Pensei em usar a rede, mas a dá frene. A de trás fica mais longe e tem um "batente" mais alto para atravessar.

    BRASIL! É Breu, valeu pelo apoio. Hoje trabalhando na bomba de porão, em cima do motor por horas, consegui aumentar minha coleção de roxos, mas isso passa. O importante agora é driblar os furacões e sair daqui.

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  4. huá, huá, huá!!! Rala a bunda na brita, fio!!!kkk
    Mas me diverti lendo aqui! Abração
    Murici

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