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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Percalços

Meus pés andam bem sujos... tento esfregar mas a sujeira não saí... estou me sentindo meio Lady MacBeth que sofria com as mão sujas de sangue por mais que ela as lavasse. O fato de estar andando de sandália para cima e para baixo lá fora de descalço no barco em um ambinte poeirento desde que cheguei não está ajudando. Também acho que eles estão queimados de sol (apesar de eu passar protetor na parte de cima do pé). Meus pés de menino amarelo de apartamento também estão com bolhas e calos, pois de vez em quando eu uso minha sadália de pneu de caminhão comprada na feira de São Joaquim. A sandália em sim não é dura, mas aquele negócio que fica entre o dedão e o dedo do lado é, literalmente, dureza. E ela deixa marcas pretas no pé.

Comentei  com alguns que no sábado eu calcei um sapato pela primeira vez... no domingo a minha pseudo-havaiana da Fundação Athos Bulcão pediu arrego (ou protestou, com ciúmes de eu ter calçado um sapato). Pelo visto meu pé vai ficar ainda mais sujo.

Deixando pés de lado, J me perguntou outro dia por que eu não escrevo mais sobre outras coisas, sobre meus sentimentos e o que estou pensando, pois o blog parece um relatório de obra. A Nath perguntou uma coisa parecida. Tenho que ser sincero, do jeito que estão as coisas, não dá para ficar elocubrando muito. Falar da reforma é mecânico e fácil e colocam quem lê inteirado de parte do que acontece por aqui. Bem que eu gostaria escrever outra coisa, mas volta e meia começo a pensar no que eu tenho que fazer no barco. Reformar barco é 50% preocupação, 40% transpiração, 9% inspiração (como resolver as coisas) e 1% de tranquilidade, que é quando tudo fica pronto (e funciona). Em via de regra, quando vc chega nesse 1% final, alguma coisa que você consertou no início dá problema e o ciclo recomeça.

Também falei para a Nath que as dificuldades "vendem" mais. Se eu falasse que estou aqui na Flórida com os pés para cima olhando o por do sol lilás, vendo eventais golfinhos, peixes-boi e peixes-bezerro no porto aqui na frente, vocês iam pensar que estou de férias e não iam acompanhar nada ;). Isso de fato acontece, mas não é o tempo todo.

De toda forma, já estou matutando um futuro post cobrindo esses pontos mais intimistas e menos operacionais.

O finde foi de muito trabalho. O cara que está consertando o fundo do barco me emprestou um compressor. Usei uma lixadeira penumática para tirar o resto das cracas e remover vestígios nos pontos onde a fibra de vidro está aparecendo (pontos que perderam a tinta). Nesses pontos vou aplicar um primer (uma base seladora) para proteger a fibra e depois pintar com tinta venenosa. É parecido com obturar um dente. Para falar a verdade, o cheiro de algumas cracas queimando é parecido, o que me dava um deja-vu de consultório de dentista, fora o barulho da broca pneumática.

Esses pontos já estão lixados, permitindo expor a fibra (tecido quadriculado)


Parece simples mas tem alguns problemas: se eu lixo demais, a estrutura fica debilitada naquele ponto e tem que ser aplicada nova camada de fibra. Outro problema: lixar fibra produz uma série de pequenas particulas que coçam bastante, por isso tive que calçar o tênis, vestir um avental, colocar luvas e uma camisa na cabeça (além de vedar as pontas do macacão com fita crepe). E eu falei que a poeira da tinta venenosa não faz bem? Por isso usei uma máscara que retém particulados (mas não o cheiro de fibra e craca queimada).



A ideia é evitar que a pele fique exposta... por isso improvisei um capuz.

E eu lembro do povo no Brasil, lixando barcos na mão grande, literalmente de peito (e pulmão) aberto. Como sou amador, o pessoal do estaleiro fechou o olho, mas quando o estaleiro lixa barcos aqui, eles usam um aspirador acoplado a lixadeira para capturar os resíduos que depois vão para um aterro. A agua que é usada para lavar o fundo dos barcos também é filtrada e reutilizada. Bom ver isso. Mas todo mundo fala que até pouco tempo, tudo ia direto para o mar.
Essa é a lixadeira orbital, que usei para trabalhos mais leves. Veja a fita crepe para lacrar os pulsos.
Felizmente essa poeira é só tinta, sem a fibra. De tanto trabalhar no sol, meu relógio tb está pedindo arrego.

No domingo teve mais lixação. Depois lavei o barco para tirar toda a poeira.

Um pequeno progresso foi conseguir tirar o nó da bolina... custou mais alguns (vários) minutos de trabalho (e muitas ferramentas apropriadas - valeu pela dica, Edu) mas o nó foi embora. O problema é que a bolina ainda não desceu.. vou ter que investigar o que está acontecendo.

Nó teimoso (e isso foi depois de 90 minutos de briga na semana passada)

Jeitinho, ferramentas e agua para molhar o nó que está aí há anos

Nessa hora percebi que ia conseguir



Trabalhava depois das 15:00 da tarde, quando o sol ficava mais fraco para eu vestir minha "roupa de fantasma" e ia até escurecer, perto das 20:00.

Voltei a trabalhar no meu cronograma da reforma. Tenho que fazer encomendas para já ter tudo em mãos quando chegar a hora da instalação (que espero que seja logo). O problema agora é combinar isso com os prestadores de serviço.

A internet daqui funciona melhor de dia, mas a noite, quando posso falar com as pessoas, geralmente a conexão é lenta ou ininterrupta. Terei que colocar isso também no meu programa de atividades. É muito frustrante encontrar alguém no Skype, começar uma conversa e a ligação cair depois de poucos segundos.. :(

Nos últimos dias choveu à noite, rapidamente, todos os dias. Percebi que isso aumenta a saudade. Tenho boas lembranças de escutar a chuva caindo abraçado com alguém...

Hora de voltar ao trabalho! Por hoje, chega.

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