Comentei com alguns que no sábado eu calcei um sapato pela primeira vez... no domingo a minha pseudo-havaiana da Fundação Athos Bulcão pediu arrego (ou protestou, com ciúmes de eu ter calçado um sapato). Pelo visto meu pé vai ficar ainda mais sujo.
Deixando pés de lado, J me perguntou outro dia por que eu não escrevo mais sobre outras coisas, sobre meus sentimentos e o que estou pensando, pois o blog parece um relatório de obra. A Nath perguntou uma coisa parecida. Tenho que ser sincero, do jeito que estão as coisas, não dá para ficar elocubrando muito. Falar da reforma é mecânico e fácil e colocam quem lê inteirado de parte do que acontece por aqui. Bem que eu gostaria escrever outra coisa, mas volta e meia começo a pensar no que eu tenho que fazer no barco. Reformar barco é 50% preocupação, 40% transpiração, 9% inspiração (como resolver as coisas) e 1% de tranquilidade, que é quando tudo fica pronto (e funciona). Em via de regra, quando vc chega nesse 1% final, alguma coisa que você consertou no início dá problema e o ciclo recomeça.
Também falei para a Nath que as dificuldades "vendem" mais. Se eu falasse que estou aqui na Flórida com os pés para cima olhando o por do sol lilás, vendo eventais golfinhos, peixes-boi e peixes-bezerro no porto aqui na frente, vocês iam pensar que estou de férias e não iam acompanhar nada ;). Isso de fato acontece, mas não é o tempo todo.
De toda forma, já estou matutando um futuro post cobrindo esses pontos mais intimistas e menos operacionais.
O finde foi de muito trabalho. O cara que está consertando o fundo do barco me emprestou um compressor. Usei uma lixadeira penumática para tirar o resto das cracas e remover vestígios nos pontos onde a fibra de vidro está aparecendo (pontos que perderam a tinta). Nesses pontos vou aplicar um primer (uma base seladora) para proteger a fibra e depois pintar com tinta venenosa. É parecido com obturar um dente. Para falar a verdade, o cheiro de algumas cracas queimando é parecido, o que me dava um deja-vu de consultório de dentista, fora o barulho da broca pneumática.
Esses pontos já estão lixados, permitindo expor a fibra (tecido quadriculado) |
Parece simples mas tem alguns problemas: se eu lixo demais, a estrutura fica debilitada naquele ponto e tem que ser aplicada nova camada de fibra. Outro problema: lixar fibra produz uma série de pequenas particulas que coçam bastante, por isso tive que calçar o tênis, vestir um avental, colocar luvas e uma camisa na cabeça (além de vedar as pontas do macacão com fita crepe). E eu falei que a poeira da tinta venenosa não faz bem? Por isso usei uma máscara que retém particulados (mas não o cheiro de fibra e craca queimada).
A ideia é evitar que a pele fique exposta... por isso improvisei um capuz. |
E eu lembro do povo no Brasil, lixando barcos na mão grande, literalmente de peito (e pulmão) aberto. Como sou amador, o pessoal do estaleiro fechou o olho, mas quando o estaleiro lixa barcos aqui, eles usam um aspirador acoplado a lixadeira para capturar os resíduos que depois vão para um aterro. A agua que é usada para lavar o fundo dos barcos também é filtrada e reutilizada. Bom ver isso. Mas todo mundo fala que até pouco tempo, tudo ia direto para o mar.
Essa é a lixadeira orbital, que usei para trabalhos mais leves. Veja a fita crepe para lacrar os pulsos. |
Felizmente essa poeira é só tinta, sem a fibra. De tanto trabalhar no sol, meu relógio tb está pedindo arrego. |
No domingo teve mais lixação. Depois lavei o barco para tirar toda a poeira.
Um pequeno progresso foi conseguir tirar o nó da bolina... custou mais alguns (vários) minutos de trabalho (e muitas ferramentas apropriadas - valeu pela dica, Edu) mas o nó foi embora. O problema é que a bolina ainda não desceu.. vou ter que investigar o que está acontecendo.
Nó teimoso (e isso foi depois de 90 minutos de briga na semana passada) |
Jeitinho, ferramentas e agua para molhar o nó que está aí há anos |
Nessa hora percebi que ia conseguir |
Trabalhava depois das 15:00 da tarde, quando o sol ficava mais fraco para eu vestir minha "roupa de fantasma" e ia até escurecer, perto das 20:00.
Voltei a trabalhar no meu cronograma da reforma. Tenho que fazer encomendas para já ter tudo em mãos quando chegar a hora da instalação (que espero que seja logo). O problema agora é combinar isso com os prestadores de serviço.
A internet daqui funciona melhor de dia, mas a noite, quando posso falar com as pessoas, geralmente a conexão é lenta ou ininterrupta. Terei que colocar isso também no meu programa de atividades. É muito frustrante encontrar alguém no Skype, começar uma conversa e a ligação cair depois de poucos segundos.. :(
Nos últimos dias choveu à noite, rapidamente, todos os dias. Percebi que isso aumenta a saudade. Tenho boas lembranças de escutar a chuva caindo abraçado com alguém...
Hora de voltar ao trabalho! Por hoje, chega.
Nenhum comentário:
Postar um comentário